O nazismo era de extrema direita. mas nacionalista 

 Os facho-bolsonaristas ganharam as eleições de 2018 aplicando nas redes sociais o conhecidopreceito do chefe nazista J. Goebbels, uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade. Evidentemente, em ambientes politicamente esclarecidos, uma mentira pode ser repetida um milhão de vezes sem enganar ninguém. Mas num ambiente de intoxicação reacionária e de ódio furibundo, até os mais grotescos disparates podem surtir efeito.

Houve quem esperasse que, uma vez no governo, os extremistas iriam equilibrar um pouco sua fraseologia. A lista é grande, porém dos dejetos mentais que eles continuam a lançar contra a inteligência e a cultura de nosso país. Notável nessa lista é a classificação do nazismo como um movimento “de esquerda”, por parte do atual ministro do Exterior, sr. Ernesto Araújo, sob a alegação de que o partido de Hitler se chamava nacional socialista. Esse argumento disparatado foi imediatamente reprovado em todos os meios politicamente civilizados, mas os sub pensadores do bolsonarismo, a começar do Chefe epônimo, insistiram em repeti-lo. Movia-os a obsessão em agredir as forças do campo democrático, especialmente os socialistas, mas também a preocupação de repelir uma identificação mais plausível: a deles próprios com os hitlerianos. Cabe notar, entretanto, que eles apenas expressaram de modo toscamente grotesco uma operação ideológica que os doutrinários da direita liberal desenvolveram desde o início da Guerra Fria, inventando um gênero, totalitarismo, do qual nazifascismo e comunismo seriam as espécies. Sob essa fórmula mistificadora, mas intelectualmente mais palatável, o antagonismo frontal entre comunistas e nazifascistas foi mentirosamente ocultado.

Os guias ideológicos adotados pelo bolsonarismo são os governos dos Estados Unidos e de Israel. Não há dúvida de que este último, principalmente, detesta o nazismo. Mas convém lembrar a observação de Ben Gurion, um dos fundadores do Estado judeu, em carta a seu amigo Haim Ghori, datada de 15 de maio de 1963, a propósito de Begin, então chefe da extrema-direita de seu país, da qual o facho sionista Netanyahu é filhote e continuador: “[…] é um personagem talhado da cabeça à planta dos pés à imagem do modelo hitleriano. Está disposto a eliminar todos os árabes para completar as fronteiras do país. […]. Considero-o um grande perigo para Israel[…]”. Se chegar ao poder, prossegue Ben-Gurion, ele colocará “criminosos de sua espécie à frente da polícia e do exército”. E concluiu: “Não duvido que Begin deteste Hitler, mas este ódio não prova que ele seja diferente de Hitler”.

O sr. E. Araújo quer fazer crer que também não gosta do nazismo, mas o pai dele, Henrique Fonseca de Araújo, gostava. Procurador-geral durante a ditadura militar, ele protegeu Gustav Franz Wagner, um monstro responsável pelo extermínio de cerca de duzentos e cinquenta mil deportados, na maioria judeus, no campo de morte de Sobibor, do qual ele era subcomandante. Graças a uma rede de proteção aos nazistas mantida por clérigos católicos ligados ao Vaticano, Wagner escapou dos escombros do Reich de Mil Anos e instalou-se no Brasil com documentação falsa. Descoberto pelo caçador de nazistas Simon Wiesenthal, ele foi preso pela polícia brasileira em 30 de maio de 1978. No ano seguinte, graças a Araújo pai, mas também ao STF, a quem cabia última palavra, a extradição solicitada pela Alemanha, Polônia e Israel foi negada. Bolsonaro não foi o primeiro a sustentar que os nazistas devem ser perdoados.

Não há lição de moral a tirar desse assunto imoral. Apenas algumas observações sobre a ideologia do governo de extrema-direita. Ele rejeita não somente o termo “socialista”, mas também o termo “nacional” na fórmula do movimento hitleriano. Em relação ao primeiro, a rejeição é meramente terminológica. O “socialismo” nazista era uma vulgar demagogia que só agredia os capitalistas judeus, mas não por serem capitalistas e sim por serem judeus; os grandes trustes “arianos” dirigiam a economia de guerra alemã, beneficiando-se até da mão de obra escravizada. Mas o componente nacionalista do nazifascismo tem fundamento objetivo. “Alemanha acima de tudo” (“uber alles”) proclamava a supremacia mundial da “raça de senhores”. Mussolini, caricatura dos antigos césares romanos, queria partilhar com os alemães o domínio do planeta. A ambição do bolsonarismo é mais modesta: quer que nossa pátria seja o vassalo mais fiel do “Colosso do Norte”; proclama “Brasil acima de tudo”, mas na prática, põe acima de tudo os Estados Unidos.

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