A “diplomacia” de Bolsonaro lesa o Brasil

“Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais! Acabou a paciência!”, esbravejou pelos corredores do Congresso o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), referindo-se ao governo Bolsonaro. Não se trata de nenhum opositor ou um parlamentar de esquerda, mas simplesmente o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reagiu ao comportamento do presidente da República na sua visita a Israel e aos comentários dos seus filhos nas redes sociais.

Na sua viagem, Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém e prometeu inaugurar futuramente a embaixada brasileira na cidade. Além disso, fez uma visita ao Muro das Lamentações acompanhado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O local é considerado sagrado para o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Ao visitar o muro ao lado do israelense, o brasileiro legitima a ocupação israelense sob o território, numa atitude que nenhum outro chefe de Estado ousou, nem mesmo Donald Trump.

A reação de parte do mundo árabe foi imediata e a Autoridade Palestina convocou para consultas seu embaixador no Brasil, Ibrahim Alzeben, como forma de expressar inconformidade com a decisão brasileira. O movimento islamita Hamas divulgou uma nota crítica onde considerou as ações de Bolsonaro uma “violação às leis e normas internacionais”. A questão palestina é muito cara aos árabes e reações não devem parar por aí. E é por isso a irritação do parlamentar ruralista Alceu Moreira. As transações comerciais com os países árabes são muito significativas, enquanto que as com Israel, insignificantes.

Setores como os de produção de açúcar, de milho, de carne de boi e de frango, são cruciais para o comércio brasileiro com nações islâmicas do oriente Médio e Ásia. Segundo o Ministério da Indústria e Comércio Exterior, somente em 2018, as trocas entre o Brasil e estes países somaram US$ 22,9 bilhões, com uma balança favorável ao Brasil em US$ 8,8 bilhões. Países de maioria muçulmana compram cerca de 70% de todas as exportações brasileiras de açúcar, 46% do milho em grãos, 37% da carne de frango e 27% da carne de boi. Enquanto que com Israel, o fluxo de negócios fica apenas em US$ 1,49 bilhão e, mesmo assim, apresentando um déficit de US$ 847,8 milhões para o nosso país.

Num cenário de crise mundial, com o país perto da recessão e mais de 13 milhões de desempregados, a diplomacia brasileira passa a ter um viés altamente ideologizado e religioso, ameaçando relações comerciais que são fundamentais para nossa economia. As lambanças não são restritas ao Oriente Médio. Nestes primeiros meses, o governo já dinamitou relações construídas ao longo de décadas, como nos mercados na África, no Mercosul e até mesmo com a China, nossa principal parceira comercial. Ou seja, a “diplomacia” de Bolsonaro lesa o Brasil em todos os sentidos e pode trazer graves consequências.

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