Denunciar as mazelas da Ditadura é papel de qualquer democrata  

31 de março de 1964: data fatídica onde se iniciou o golpe militar brasileiro que deu início a uma terrível ditadura que só se encerrou em 1985. Até as eleições diretas de 1989, foram mais de 30 anos sem que o cidadão comum pudesse votar e escolher seus representantes.

Ainda recentemente, este dia era lembrado com atos de protesto não só contra o regime, mas também como forma de cobrar o paradeiro de centenas de “desaparecidos” políticos e homenagear milhares de civis assassinados pelos militares simplesmente por se oporem ao estado de exceção então presente.

Entretanto, desde o golpe (de novo) que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, dezenas de irresponsáveis, muitos que não fazem ideia do que isso representa, passaram a pedir nova intervenção militar no Brasil. Veja bem: pessoas protestando pela volta de um regime que impedia os protestos. Faz sentido? Nenhum!

Segundo a Comissão da Verdade, que objetivou abrir esta “caixa de Pandora” que foi este período obscuro que durou 21 anos, quase 1000 pessoas foram “desaparecidas” ou assassinadas nos porões do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), local onde ocorriam as famosas sessões de tortura aos presos políticos.

Ao contrário do que alguns tentam propagar, a ditadura militar brasileira não foi branda, foi tão sanguinária quanto a argentina e a chilena, a grande diferença desses países para o nosso, é que nesses locais os ditadores e torturadores foram presos e condenados, ao contrário do Brasil, onde vários assassinos seguem soltos e vários arquivos da época ou desapareceram ou seguem escondidos. Pesquisas recentes mostram que somente entre oficiais da caserna contrários à ditadura, cerca de 6600 foram perseguidos ou expulsos das Forças Armadas, um número impressionante, que faz deduzir que o número oficial de perseguidos seja muito maior que os números oficiais.

Também impressionante é o fato de cerca de 60% dos “desaparecidos” políticos não terem nem mesmo 30 anos, mostrando o quão covarde foram os ditadores e seus aceclas, torturando e matando jovens que poderiam ser seus próprios filhos.

O uso de arsenais mundialmente proibidos, como as bombas Napalm e o “agente laranja”, também foram utilizados no combate aos que defendiam a democracia, bem como ações horripilantes, como a doação (sem aval) dos filhos de presos políticos a terceiros! Verdadeiros crimes de guerra!

Quando não se acerta as contas com o passado, seus fantasmas voltam a assombrar o presente, que é o que estamos vendo nos últimos 3 anos. Como a história oficial não conta o genocídio que foram os 21 anos de ditadura fascista e a Lei da Anistia não condenou os militares assassinos, muitos jovens acabam por defender ideias absurdas, mostrando como somos carentes de conhecer melhor a nós mesmos. Qualquer país minimamente sério, não aceitaria ou compactuaria com defensores de um regime como esse, como é o caso do atual presidente, Jair Bolsonaro.

Este cidadão, conhecido pelas aberrações que defende, propôs comemorar (ou rememorar) o golpe de 31 de março de 1964. Como forma de criar polêmica, tirando do foco sua injusta reforma da previdência já proposta nas comissões do congresso, desta vez, ao contrário de outras polêmicas propositadamente criadas, o tiro saiu pela culatra.

Em quase todas as capitais, civis saíram às ruas nesse domingo (31-03-2019) vestidos de preto, como forma de protestar contra a ideia de se comemorar tal período nefasto, mostrando como o apoio popular ao presidente recém-eleito segue derretendo dia a dia…

Bolsonaro, que um dia sonhou ser parecido com o mais cruel dos generais presidentes, Garrastazu Médici, lembra mais a caricatura de Charles Chaplin no filme Tempos Modernos (1936), perdido e neurótico, se aproximando de um destino similar a Jânio Quadros, famoso por suas bizarrices, ou até mesmo Collor de Melo, sempre lembrado por não ter terminado seu mandato confiando em um apoio popular que nunca houve (após o resultado eleitoral).
Desmascarar as assombrações do passado denunciando suas mazelas, é dever de todo democrata, opor-se a quem defende a volta da ditadura fascista, também, e mostrar a quem não sabe a verdadeira história não contada, ainda mais!

Não se brinca com coisa séria! Ditadura nunca mais!

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!

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