No rádio, desgaste e resistência

Mesmo com a multiplicidade e a sofisticação das mídias, continuo ouvinte do rádio. E creio que parcela expressiva da população também — embora eu não tenha em mãos dados estatísticos sobre o assunto.

Até emissoras que nos boletins do Ibope aparecem com "traço" de audiência têm seu nicho. Sempre que entrevistado por uma delas, alguém comenta que me ouviu.

Então, agora que com pouco mais de dois meses de governo o capitão Bolsonaro amarga corrosão progressiva dos seus índices pessoais de popularidade e de aprovação de sua gestão, o rádio cumpre o seu papel.

No rádio, ouço logo cedo o lamento de comentaristas econômicos quanto à incapacidade do presidente da República negociar apoio parlamentar para a reforma da Previdência.

O Mercado, dizem, anda exasperado. Há uma tendência de queda do índice Bovespa e de aumento progressivo do dólar; investidores estrangeiros, que se mostravam animados a voltar a investir no Brasil, se retraem.

Diante de tanta incerteza, os chamados capitais de risco se manterão equidistantes, comentam.

Ou seja, o Mercado elegeu um presidente compromissado com as altas esferas do rentismo que não está se mostrando capaz de entregar a encomenda.

De passagem, vale anotar que as tresloucadas postagens do capitão presidente e seus filhos diletos no Twitter não são sendo suficientes para convencer a maioria.

Tanto que há dias vem sendo anunciada nova mudança na equipe de comunicação do Planalto, justamente para tentar o desgaste, sobretudo nos grandes centros urbanos, a partir de São Paulo.

Quando o "inimigo" se embaraça, cá do campo das forças oposicionistas cabe atenção, bom senso e sagacidade. Para lhe impor derrotas parciais que, num processo cumulativo, possam contribuir para uma alteração futura da correlação de forças.

A aprovação pela Câmara dos Deputados, por ampla maioria, da emenda constitucional que restringe a quase zero o controle do Executivo sobre a execução do Orçamento Geral da União — em tese uma ideia discutível — se constitui em derrota expressiva do governo.

Agora, numa combinação entre a resistência no parlamento e a luta na base da sociedade, urge erguer com firmeza e argumentação compreensível pela maioria as bandeiras da defesa da Previdência Social pública e da Educação pública de qualidade, ambas ameaçadas pelo governo.

Em outras palavras, trata-se da luta de ideias em todos os níveis, tendo como vetor a resistência de democrática e a construção de uma vontade oposicionista a mais ampla possível, no parlamento, nos salões, nas redes, no rádio e nas ruas.

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