O massacre da escola em Suzano pode voltar

Em vez dos mais sentidos choques diante das mortes de estudantes em Suzano, devíamos saber que massacres como o da Escola Estadual Raul Brasil podem voltar. O clima, a atmosfera do Brasil continua com o veneno de ódio. Os massacres continuam na ordem do dia, e talvez nem tenhamos tempo de ler a manchete dos jornais de ontem.

Não adianta criminalizar, fazer um novo Lombroso do perfil dos assassinos da escola em Suzano. De um modo invertido, como se fosse uma receita de seriado de ação para o drama, os jornais falam que os criminosos “eram meninos normais. Falavam bom dia, boa tarde, boa noite”. Nem usavam drogas. Falam que ele “era um garoto educado, gentil até”. Se alguma conclusão podemos tirar disso é este aviso: mantenham distância de todo e qualquer adolescente gentil. Pior. Outras notícias avançam até o perfil psicológico de jovens que cometem atos como o de Suzano: são pessoas tímidas, que não se sentem aceitas pelo meio em que estão inseridas. Portanto, atenção para esse disfarce de indivíduo inibido. Ouviram e viram bem? É como se todos devêssemos ter cuidado com os brasileiros mais calados e tímidos.

Mas a pesquisa e a análise sobre o perfil e razão da loucura revelam muito mais do tímido que no futuro seria um assassino cruel. O criminosos mais jovem, que se identificava nas redes como “Guilherme Alan”, se declarava “fã de armas” e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. O Guilherme infeliz, como tantos jovens sem razão de viver, costumava interagir bastante com páginas que faziam propaganda pró-armamento no Brasil, entre elas a “Portal Armas de Fogo” e “Eu Amo Armas”. E o mais importante, que se relaciona de modo direto com a sua falta de norte: ele devotava apoio a Jair Bolsonaro e ódio contra grupos de esquerda na sua atuação on-line.

Há muito, o jovem partilhava as idéias, ou melhor, a falta de ideias, em frases do seu ídolo maior. “Nós vamos metralhar a petralhada”, falou o guru Bolsonaro, enquanto utilizava um tripé de câmera para simular uma arma. “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, assim mandou o ídolo. E mais, “sou capitão do Exército, minha missão é matar”. Isso é inesquecível e formador do caráter de meninos sem bússola.

Já presidente, o ídolo não parou de atirar de várias maneiras. Não faz uma semana, atirou jornalistas às feras dos seguidores, quando apontou denúncia falsa contra a repórter Constança Rezende, divulgando a foto e nome do pai da profissional, outro jornalista, para os caçadores da extrema- direita. Quando não mata por palavras, ele sugere ou manda matar.

Os especialistas falam sempre que a melhor prevenção contra matanças em escolas é a criação de modelos que incentivem o diálogo. Mas como, se o modelo vem do ódio no poder da presidência, que prega para milhões o contrário da paz? O modelo de jovens em desespero é aquele que baba de raiva no Planalto. Bolsonaro é um estímulo para novos ataques.

Neste clima, é natural que a chacina da escola em Suzano possa voltar. Aliás, infelizmente, vai voltar. Não é preciso ser profeta. Basta olhar o criminoso maior na presidência. É dele a fonte radioativa de novos massacres.

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