Governo em família

Faturar o prestígio dos avós na política já é costume na história recente do Brasil. Eduardo Campos seguiu o rumo de Miguel Arraes, Aécio o de Tancredo Neves e Fernando Collor o de Lindolfo, por exemplo. Mas, de todo jeito, cada um ao seu tempo, sem que se metessem nos governos dos mais velhos, bem diferente do que ocorre agora no país.

Os filhos do atual presidente, políticos favorecidos pela onda que levou o pai ao posto máximo, se metem no governo ao bel-prazer e são ouvidos pelo pai. Formam, em verdade, um bloco no PSL, o partido da família, e no próprio governo, como se tudo fosse assunto doméstico.

O caso mais notório é o do filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro, que resolveu denunciar publicamente o desvio de dinheiro eleitoral pelo deputado federal Gustavo Bebianno, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. O dinheiro público era passado a candidatos laranjas, que estavam ali só pra isso e repassavam os valores ao chefe do esquema.

A história parece verdadeira. O que não é claro são as intenções de Carlos ao fazer a denúncia. A hipótese mais próxima é a de desviar as atenções do caso de seu irmão Rogério, agora senador, que havia montado esquema parecido de caixa 2 no seu gabinete como deputado estadual do Rio, com o motorista Queiroz.

Mas jogou pesado contra Bebianno, com o apoio de seu pai. Destruiu a figura do cara que foi tudo na sua campanha eleitoral, começando pela articulação da base de apoios políticos no país inteiro. Por isso mesmo, porém, é que ele tem informações mais que privilegiadas sobre o processo eleitoral e promete pôr a boca no trombone caso seja consumada sua exoneração do cargo, prometida (mas adiada) várias vezes pelo presidente da República, talvez temendo o estrago que o ex-aliado pode fazer.

O ministro acabou sendo demitido formalmente no início da noite de segunda-feira, dia 18 – cinco dias após o início do bate-boca com o presidente com seu filho, que nada tem a ver com o governo federal.

Pra justificar a medida, o chefe do Executivo alegou “questão de foro íntimo”, sem dizer o motivo da demissão, já que o ministro do Turismo, Marcelo Antônio, acusado do mesmo crime, permaneceu no cargo, ileso.

Sejam quais forem as razões, o fato é que um filho do presidente agiu afinado com o pai e conseguiu derrubar um ministro. Dá mais uma demonstração, assim, que a família toda, mesmo à distância, está nos corredores do Palácio do Planalto.

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