Direita toma de assalto comando do Senado

 Uma análise superficial e apressada poderia concluir que o governo Bolsonaro ganhou a eleição das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado da República. Não é verdade, como pode sugerir as aparências, pois é preciso ter presente que essência e aparência, embora interligadas, são categorias filosóficas distintas. E o fato concreto é o que o governo perdeu a eleição na Câmara – onde se viu obrigado a aderir – e ganhou no Senado.

Na Câmara o projeto original não incluía o PSL pois, como é público, o próprio filho do presidente defendia uma chapa própria em contraposição às pretensões de Rodrigo Maia, que articulava sua candidatura sem qualquer patrocínio do governo.

Assim, quem imaginava que a direita já estava suficientemente fragilizada pelo escândalo do filho de Bolsonaro e que, por isso mesmo, torcia o nariz para qualquer aliança que não fosse “programática”, vai ter que refazer suas contas após a eleição da mesa do Senado.

A demonstração de truculência política e desapego aos preceitos legais que a direita exibiu na “tomada de assalto do Senado”, embora seja sua prática recorrente, chocou até mesmo aos observadores menos atento e suplantou, em termos de caricatura, as pitorescas barbaridades praticadas na imaginária “Sucupira” de Odorico Paraguaçu.

O espetáculo de arrogância e truculência que eles desfilaram nos dois dias de contenda pelo “botim” senatorial demonstra que eles não têm limites. Estão dispostos a saquear o país e a golpear os trabalhadores, na lei ou na marra, como fizeram na eleição do Senado.

A nossa linha de defesa, portanto, por mais brava e destemida que seja nossa tropa, precisa de apoio e de retaguarda para além das nossas próprias forças. Mesmo aliados pontuais, absolutamente transitórios e motivados, não raro, por meros interesses particulares, não podem ser negligenciados nessa etapa. O que está “por um fio” é a própria democracia.

Tomaram na mão grande. Mas, por que? O que é mesmo que está em disputa?

Os medíocres talvez imaginem que são os cargos da mesa e outras eventuais sinecuras. Pobres coitado. Isso é perfumaria, que até pode motivar um ou outro personagem do chamado “baixo clero” do mundo político, mas é mera aparência.

A disputa real é pelo controle da agenda que vai ser executada. Com Renan Calheiros (PMDB) o executivo teria que calibrar a legalidade de suas mensagens para não correr o risco de ter suas proposituras arquivadas por “flagrante ilegalidade”, como o Regimento Interno de qualquer casa legislativa preceitua. Com a eleição de Davi Acolumbre (DEM), escalado e bancado por eles, essa preocupação desaparece. Votarão até moção de censura ao Papa, se a ala fundamentalista do governo assim desejar.

Como o presidente do Senado é automaticamente o presidente do Congresso Nacional, a manobra executada pelo governo representou, a um só tempo, a tomada de assalto do comando do Senado e do Congresso Nacional, o que facilitará extraordinariamente a tramitação de matérias de interesse do governo, as quais, não raro, serão contra a nossa soberania e os direitos dos trabalhadores e da sociedade como um todo.

Não há meio termo. A tomada de assalto do comando do Senado pela direita representou um duro golpe ao movimento popular, que pode trazer graves consequências, sendo a mais imediata delas a redução do parlamento a um mero apêndice do governo, destinado ao papel menor de carimbador das proposituras do executivo.

E quem contribuiu para essa derrota do movimento popular e a vitória da direita?

Em primeiro lugar parte das forças progressistas novamente subestimaram o governo, tal qual fizeram com a eleição do próprio Bolsonaro. E essa subestimação tem base objetiva, afinal tanto o presidente quanto o novo presidente do Senado são parlamentares com longa trajetória de mandatos sem qualquer ação ou postura que, a rigor, pudesse credencia-los a esses postos.

Deveriam ter analisado melhor a história e iriam encontrar vários paralelos mundo afora, em especial a análise de Marx sobre o golpe de Estado da França, quando ele afirma: “eu, pelo contrário demonstro como a luta de classe na França criou circunstâncias e condições que possibilitaram a um personagem medíocre e grotesco desempenhar um papel de herói (Marx, no 18 Brumário de Luís Bonaparte). Não é mera coincidência.

Além da tropa choque do governo, cujo extrato é precário, se juntou a essa manobra gente da direita tradicional (PSDB, PSD, PPS, PR, etc.), além de senadores do PSB e da REDE de Marina Silva e do Senador Randolfe Rodrigues (um dos mais entusiasmados articuladores de Davi Acolumbre), que não esboçaram qualquer protesto ou apelo pela moderação diante da truculência política e regimental que seus pares praticavam.

Que papelão!

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor