Vai mal e poderia ser pior

Com pouco mais de uma quinzena do novo governo, o noticiário é rico em trapalhadas do capitão e seus ministros.

– Do jeito que vai é muito ruim para o País!, comenta um vizinho aqui do meu prédio.

– Nada disso, melhor que continue assim.

– Melhor assim!?…

Contei-lhe uma historinha que ouvi de Miguel Arraes.

Certa vez, numa localidade de nossa Zona da Mata Sul, em razão de delito simples um trabalhador rural estava sendo conduzido à delegacia por um cabo da PM, que de vez em quando batia com o cassetete na cabeça do prisioneiro, a ponto de sangrar.

— Faça isso não, seu cabo! Desse jeito é melhor matar…, gritou um cidadão que assistia a cena de dentro de uma barraca.

— Nada disso, matar, não! Como vai, vai bem, respondeu o prisioneiro.

Pois diante da agenda ultra liberal, regressiva de direitos, atentatória à soberania do país, melhor que o governo Bolsonaro siga atrapalhado, metendo os pés pelas mãos, um ministro desmentindo o outro ou discordando em público do próprio presidente e o presidente dizendo e desdizendo através do Twitter.

Quanto mais demorarem a aprender a governar, melhor.

Porque essa é uma das variáveis contidas na nova situação do País. Pode estar acontecendo o início de um novo ciclo regressivo, de desmonte de direitos e de salvaguardas de nossa soberania e de caráter autoritário— cujo conteúdo, grau de realização e ritmo dependem essencialmente da correlação de forças real na sociedade e também, em boa medida, da capacidade gerencial do governo.

Trava-se uma batalha que será cada vez mais renhida entre a extrema direita vitoriosa e seu projeto político versus forças que resistem, tendo como pedra de toque a defesa da democracia e a tentativa de impedir a plena realização do plano de governo.

Entre um polo e outro, humores e tendências comportamentais de grandes contingentes da população, que podem se inclinar para um lado ou para o outro.

O governo Bolsonaro carece de gente competente e enraizada nas diversas instituições formadoras de políticas públicas e de quadros, salvo ministros militares e o grupo dos chamados Chicago Boys, aglutinado no ministério da Economia.

Então, por enquanto, como vai, vai bem…

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