Talvez mais cedo do que se imagina

Comumente novos governantes iniciam sua gestão cercados de expectativas positivas, que ultrapassam os percentuais de votos que os elegeram.

Com o capitão presidente não é diferente. Parcela expressiva da população que votou em Fernando Haddad lhe dá um crédito de confiança. Um gesto de boa vontade que faz parte de nossa cultura política. E do jeito de ser do nosso povo.

Oposicionistas dão um tempo, aguardando os acontecimentos para formularem suas críticas sem que, aos olhos do grande público, pareçam intolerantes ou precipitados.

Porém o novo presidente e sua equipe parecem se esmerar em palavras e gestos que contrariam expectativas e dão azo a duras críticas, inclusive advindas do campo conservador.

Muitas dessas críticas têm um quê de surpresa, pois por mais bronco que seja o chefe do governo, supõe-se que haja quem, em sua equipe, segure as pontas e dê o tom.

Entretanto, há um confronto aberto entre as principais iniciativas do novo governo e o que pensa e espera a maioria dos seus eleitores.

Considerando dados do Datafolha, que se supõe se aproximem razoavelmente da realidade, dois terços da população discordam do alinhamento automático com os EUA.

Também o conservadorismo exacerbado que o governo pretende imprimir ao sistema educacional, pautado pela consigna “Escola sem partido”, não conta com a aprovação da maioria.

Diz o Datafolha que 71% acham que assuntos políticos devem ser tratados em sala de aula e 54% consideram que a educação sexual na escola seja mantida.

A liberação da posse de armas de fogo – uma bandeira essencial (sic) do novo governo – é reprovada por 61% da população.

A reforma previdenciária, em torno da qual há verdadeira mixórdia na equipe governamental, é rejeitada por 71%.

Assim como 60% se manifestam contra as privatizações de estatais estratégicas 57% condenam da redução de direitos trabalhistas.

Temas que dão conteúdo a bandeiras erguidas desde já pela oposição, com ressonância na opinião pública.

Em suma, o novo governo pode conhecer um gradativo divórcio com os que o elegeram bem mais cedo do que se imagina.

Este é um dado importante na conformação da correlação de forças no embate que põe em conflito amplos segmentos da sociedade e a aglutinação direitista.

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