Escaramuça em guerra prolongada

A iniciativa do PCdoB ao apresentar a Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao STF, que motivou a decisão do ministro Marco Aurélio Melo é cercada de justeza, ainda que tenha resultado na inviabilização da desejada soltura, dentre outros, do mais ilustre condenado sem provas do país, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Como se sabe, a interdição se deu horas após por despacho do presidente da corte, ministro Dias Toffoli.

Repercutiu principalmente lançando luz, mais uma vez, para a opinião pública nacional e internacional sobre o caráter injusto da prisão de Lula.

Até aí, ponto positivo.

Entretanto, manifestações de regozijo antecipado por uma suposta iminente liberdade de Lula se excederam em otimismo.

A suprema corte, que já sujou as mãos de lama e sangue tantas vezes, não iria agora se permitir esse lampejo de justiça.

Isto praticamente às vésperas da posse do candidato da extrema direita cuja vitória no último pleito se viabilizou em parte pelo impedimento da candidatura de Lula.

O cumprimento da decisão prolatada pelo ministro Marco Aurélio, nas atuais circunstâncias políticas e sob correlação de forças tão adversa poderia até ensejar a quebra da precária normalidade institucional via intervenção militar.

Mais apropriado é entender os acontecimentos de ontem como uma escaramuça em meio a uma guerra de longo curso.

Os desdobramentos da eleição do capitão Bolsonaro para a presidência da República são de uma dimensão que não comporta otimismo imediatista.

Inicia-se um novo ciclo político-social, de caráter regressivo e de traços fascistoides.

Interromper esse ciclo requer jogo de forças para o qual os segmentos partidários e sociais que se batem pela democracia ainda não estão devidamente preparados. Especialmente porque carecem de um grau de união mínimo que lhes possibilite movimentações mais consistentes, mais ousadas e mais amplas.

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