O fator militar no governo Bolsonaro – 1: Equilíbrio

São múltiplas as análises que, com ênfases distintas, assinalam a importância dos militares na composição do bloco de forças reunido em torno do presidente eleito. Elas convergem em considerá-los um fator de equilíbrio e moderação no novo bloco governamental composto de ultraliberais entreguistas, vociferantes cripto fascistas e talibãs evangélicos.

Há consenso também sobre o caráter corporativo da participação dos militares na presidência de Bolsonaro. Embora convidados a título individual, eles tendem a manter postura unida no interior do governo. Não devemos raciocinar na base de boatos, mas essa hipótese ficaria reforçada se tiver fundamento a notícia de que a candidatura a vice do general Mourão foi exigência de um grupo de generais influentes.

É importante aqui levar em conta que, diferentemente do Chile sob Pinochet e em boa medida da Argentina sob Ongania e mais tarde Videla, a ditadura militar no Brasil não se identificou individualmente com nenhum general. Os sucessivos “presidentes”, marechais ou generais de quatro estrelas, foram escolhidos pela cúpula das Forças Armadas, com mandatos limitados no tempo. Sem dúvida, Ernesto Geisel, a mais forte personalidade entre eles, sobressaiu-se imprimindo no regime o rumo de seus projetos econômicos e políticos, mas só pôde fazê-lo porque em momentos decisivos enfrentou com êxito os adversários da “abertura” no interior do próprio aparelho militar.

A diferença mais evidente entre os poderes ditatoriais exercidos pelo Alto Comando das Forças Armadas entre 1964 e 1985 e a forte presença militar no governo que começa em 1º de janeiro de 2019 está em que, tendo sido eleitos pelo sufrágio universal, Bolsonaro e Mourão não são mandatários das casernas, embora contem com elas. Bem menos evidente é como se estabelecerá a relação de forças no interior do governo e, em especial, qual será a atitude dos generais relativamente ao entreguismo ultraliberal de Guedes e consortes.

Evidentemente, se a dupla presidencial for capaz de compor certo equilíbrio entre os heteróclitos componentes do ministério, suas contradições internas permanecerão em segundo plano, até a situação concreta tornar impostergável uma decisão conflituosa (sobre a Petrobras ou a política externa, por exemplo).

Na frente cultural, a coesão do novo governo será mais facilmente mantida: os talibãs evangélicos e seus sócios cripto fascistas, que sofreram uma derrota importante na Câmara Federal em 11 de dezembro com a retirada de pauta do projeto policialesco e obscurantista dito “Escola sem Partido”, certamente voltarão à carga na próxima legislatura, com o apoio do clã Bolsonaro e de sua tropa de choque.

É, pois sobretudo em relação aos desastrosos disparates anunciados na política externa e às privatizações antinacionais anunciadas por Guedes e outros sub-Chicago Boys que a direita militar incorporada ao novo governo pode exercer contrapeso.

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