O candidato dos capitalistas
Sob o ponto de vista marxista as eleições são uma expressão da luta de classes, um momento em que sobressai o entrechoque de interesses econômicos – e por extensão sociais e políticos – divergentes. Um fenômeno que keynesianos batizaram de conflito distributivo, um elegante eufemismo para o conceito adotado por Karl Marx, temido e condenado com virulência pela ideologia burguesa dominante.
Publicado 24/10/2018 11:19
Esta luta nem sempre transparece com nitidez nos fatos. Muito menos nas narrativas dominantes impostas pela mídia empresarial, que geralmente jogam uma cortina de fumaça sobre os fatos para mascarar a realidade, vendendo neste momento, por exemplo, a falsa ideia de que o que estará em jogo no dia 28 de outubro é a luta contra a corrupção, supostamente a raiz de todos os males brasileiros.
Dimensão global
O conflito e as contradições de interesses não se verificam apenas entre classes antagônicas, mas também no interior de uma mesma classe, e na modernidade adquiriu ainda uma dimensão global e globalizante, com o protagonismo da aristocracia financeira internacional e das grandes potências por ela controladas, como é destacadamente o caso dos EUA, no momento o senhor das guerras híbridas que se julga no direito de intervir nos assuntos domésticos de todo mundo, atropelando os direitos das nações à autodeterminação.
Em momentos de crise, como este que estamos vivendo, fica mais difícil mascarar o caráter de classes das batalhas políticas. Lembremos o protagonismo da Fiesp e outras entidades empresariais no golpe de Estado travestido de impeachment, em 2016, bem como na aprovação da reforma trabalhista, da terceirização irrestrita, da maior abertura do pré-sal ao capital estrangeiro e do novo regime fiscal, estabelecido para satisfazer o mercado financeiro, que tem por fundamento o congelamento dos gastos públicos primários por 20 anos.
Posição dos trabalhadores
Nestas eleições, marcadas por uma aguda polarização entre esquerda e extrema-direita, o entrechoque de interesses ganha maior nitidez no comportamento das diferentes classes e grupos sociais. As centrais sindicais decidiram marchar juntas a favor de Haddad, sinalizando uma única orientação à classe trabalhadora no segundo turno, apesar das diferenças políticas e ideológicas.
Não há uma só organização representativa da classe trabalhadora com Bolsonaro. Não poderia ser diferente, O candidato da extrema direita acena com o fim dos sindicatos e da CLT e novos contratos de trabalho regulados pela negociação individual entre patrões e empregados. Na condição de deputado federal, há mais de 20 anos, votou invarialmente contra os trabalhadores. Seu vice, general Mourão, prometeu em encontro com empresários acabar com o 13º Salário.
A dupla também assumiu compromissos com a reforma da Previdência, privatizações, desnacionalização da economia, congelamento dos gastos e outras medidas amargas, contraproducentes para o desenvolvimento nacional e notoriamente contrárias aos interesses do povo trabalhador e da nação brasileira.
Imperialismo
Bolsonaro, que cometeu a infâmia de prestar continências diante da bandeira dos EUA e prometer absoluta lealdade a Donald Trump (numa grotesca exibição do complexo de vira lata referido por Nelson Rodrigues), goza do apoio da Casa Branca, das multinacionais e da esmagadora maioria da burguesia brasileira, que há muito uniu seu destino e projeto político reacionário aos dos EUA.
Idolatrado como um mito pelos mais ricos, o candidato de vocação fascista promete radicalizar a política de restauração neoliberal em curso no Brasil desde o golpe de Estado de 2016. É um Temer piorado pelo tempero do autoritarismo, defensor da tortura, da violência e criminilização das lutas sociais.
Crime sem castigo
O escândalo do financiamento ilícito das fake news disparadas através do Watsapp contra Haddad (denunciado pela Folha de São Paulo e minimizado pela Globo e outros veículos), envolvendo um Caixa 2 empresarial de centenas de milhões de reais, ilustra bem o grau de envolvimento dos nossos capitalistas com o líder da extrema direita, assim como a luta de classes subjacente ao processo eleitoral. Trata-se de um crime (cometido pelo capital) que provavelmente ficará impune, pois o “mito” conta com a cúmplice conivência do Poder Judiciário e da mídia.
Não é sem razão que Haddad goza do apoio unânime das centrais sindicais e dos movimentos sociais. Seu programa prevê a interrupção e reversão do retrocesso impostos pelo governo ilegítimo de Michel Temer, começando pela revogação da reforma trabalhista e da Emenda Constitucional 95, que determinou o congelamento dos gastos públicos. São iniciativas que contemplam os interesses da classe trabalhadora e também da nação brasileira, pois vão abrir caminho à recuperação da economia e do emprego.
Embora os fatos indiquem quem é quem, ou seja quem de fato é amigo e quem é inimigo do nosso povo, milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, sobretudo os que sofrem o flagelo do desemprego ou naufragaram no desalento, estão se deixando levar pelo canto de sereia do capitão fascista. São pessoas compreensivelmente desiludidas com o sistema político e desnorteadas pelas fake news e a narrativa enganosa da mídia hegemônica. É preciso redobrar os esforços para abrir os olhos do povo e virar o jogo a favor da democracia, da soberania nacional e da valorização da classe trabalhadora. Ainda temos tempo de barrar a vitória do fascismo. O grito de alerta ecoou forte nas manifestações deste fim de semana, afastou o desânimo e injetou sangue novo na campanha. É Haddad, 13, no domingo.