Enquanto há tempo, o jogo precisa ser jogado

A primeira pesquisa Datafolha relativa ao segundo turno, divulgada ontem, revela uma dianteira de 16 pontos percentuais do capitão Bolsonaro sobre Fernando Haddad.

Os números não são animadores, mas também são estimulantes para quem luta sob quaisquer condições.

A vantagem momentânea e ameaçadora do extremista de direita reflete uma tendência obscurantista que há algum tempo tem tomado corpo mundo afora, inclusive em países culturalmente avançados da Europa Ocidental, e chega ao Brasil na esteira da crise multifacetada em que o País está os mergulhado.

Quando a crise é perversa e as saídas não são claramente visíveis, a desesperança atinge milhões.

E numa sociedade como a brasileira, historicamente habituada a concentrar suas esperanças num líder momentaneamente carismático e aparentemente apto a "salvar" a nação do atoleiro, o capitão neofascista se adequada como uma luva.

No campo progressista, Getulio (contradições à parte) e Lula marcaram sua trajetória com esse pedigree.

Agora, com a semi destruição do sistema político vigente pela Operação Lava Jato e suas ramificações, repete-se, de modo mais agudo, o fenômeno Collor de 1989, que caçaria marajás, agora na figura do capitão que promete exterminar bandidos.

Fórmula simples, carente de consistência e ao largo dos problemas reais que afligem a sociedade brasileira. Mas incrivelmente absorvida por camadas as mais diversas, dos endinheirados do andar de cima a extensas parcelas dos mais pobres, ironicamente beneficiários das políticas inclusivas adotadas pelos dois governos Lula e pelo primeiro governo Dilma.

Num tempo sombrio, palmilhado pela dispersão política e ideológica e alimentado por artifícios midiáticos e pela manipulação das consciências via redes sociais, o pleito presidencial assume o dramático desenho de agora.

Entretanto, numa campanha de pouco mais de três semanas minutos valem horas. A reversão de percepções e expectativas não é simples quando se trata de milhões de eleitores. Mas o jogo não terminou.

Haddad avança no sentido da amplitude e do diálogo sem preconceitos com democratas de todos os matizes. Ajuda a resistência.

Se houver debate entre os dois candidatos — a tática do capitão é fugir com o argumento do seu estado de saúde —, talvez se possa avançar em alguma medida.

Nas redes e, sobretudo, nas ruas a partir de segmentos articulados, urge abordar os milhões de eleitores ainda indecisos ou que admitem mudar o voto (como ocorreu no primeiro turno).

Sigamos na luta!

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