Ruralistas querem mais

Num documento intitulado “O Futuro é Agro”, os ruralistas propõem que os candidatos a presidente da República incluam em seus planos de governo políticas que seriam a completa oficialização do desmando no campo.

Com o subtítulo de “Plano de Estado”, o calhamaço com 269 propostas tem sido entregue aos presidenciáveis que os procuram pra tratar de eleições por meio da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Eles têm a seu favor o fato de que a maioria dos candidatos (exceto Haddad, Boulos e Marina) sequer trata da questão ambiental, por exemplo, em seus programas de governo.

Por isso, os ruralistas se referem a unidades de conservação e áreas indígenas, de remanescentes de quilombos e de comunidades tradicionais como “o maior entrave que enfrentamos”.

Já na sua parte inicial, em que lista as “prioridades do setor”, documento pede garantias de “segurança jurídica”, em especial no que se refere ao “arcabouço legal das questões fundiárias” e às “normas jurídicas que possuem subjetividade”.

Com esse enunciado, desfia grande quantidade de argumentos contra as regras históricas, que já são regularmente violadas pelos latifundiários, mas que eles mesmos acham muito rígidas e precisam ser “flexibilizadas”.

Entre as propostas que fazem aos presidenciáveis, está a de “apoiar políticas públicas voltadas para o crescimento sustentável do setor”.

São, contudo, extremamente vagos ao tentarem explicar o que são as políticas de sustentabilidade de que falam, afirmando que são ”em especial aquelas que regulam o uso dos recursos naturais baseado em agricultura inteligente, competitiva e provedora de serviços ambientais”.

Eles apoiam as medidas já tomadas pelo atual governo federal quanto aos setores trabalhista, previdenciário e de desmatamento, mas defendem o desmantelamento das normas ainda hoje vigentes.

Dizem que as demarcações de áreas de preservação “são ideológicas” e que não existe trabalho equivalente ao escravo na zona rural brasileira.

Mas pedem, de todo jeito, que a fiscalização trabalhista seja feita por mais de uma equipe, sempre diferente.

Alegam que, com a “dupla visita” de auditores fiscais do trabalho, os empregadores “teriam oportunidade de reparar os problemas identificados."

Em nenhum momento, o documento dos ruralistas reconhece o caráter predatório da agricultura extensiva praticada no Brasil inteiro nas últimas décadas. E tampouco fala do drama dos agrotóxicos.

Ao contrário, fala do agronegócio atual com profundo desprezo pelos aspectos socioambientais da atividade agropecuária. Políticas de proteção da flora, da fauna, das águas e da própria vida humana no campo são apontadas como entraves ao setor.

Enfim, o documento “O Futuro é Agro” deixa claro que os ruralistas acham que têm pouco, querem muito mais.

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