O rumo e o ritmo

Inegável que uma variável talvez decisiva na eleição presidencial é o desempenho do "13", em circunstâncias sabidamente adversas.

Isto porque o PT optou por uma tática cujo vértice está na manutenção do nome de Lula como candidato, a despeito de todos os obstáculos legais.

Isto até onde é possível, via interposição de recursos e outros instrumentos processuais.

Concomitantemente, pela ação militante e pela produção de fatos ressonantes na opinião pública, segurando as intenções de voto em Lula, na expectativa de mantê-las quando substituído por Haddad (tendo Manuela como vice).

As pesquisas até o momento respondem positivamente a essa tática de alto risco. Lula continua pontificando em todos os cenários.

Mas há o risco de sangria de parte dessas intenções de voto para outras candidaturas, conforme sugerem as mesmas pesquisas.

Embutida nessa tática, para além da convicção de que eleitoralmente seria viável, está o esforço do Partido dos Trabalhadores, sob a orientação do próprio Lula, em se manter hegemônico no campo situado à esquerda.

Também o prestígio do PT alcançou significativo crescimento recentemente, pós desgastes dos últimos três anos.

Num pleito disputado por uma variada gama de candidatos, até onde esse caminho tático será bem sucedido?

Melhor teria sido — como sempre defendeu o PCdoB e sua pré-candidata Manuela D'Ávila — unir a esquerda já no primeiro turno. Diferente da atual dispersão desenhada pelas candidaturas do 13, a de Ciro Gomes e mais as do PSTU e PSOL.

Mas essa evidência não sensibilizou devidamente os principais atores presentes na cena política.

Dentro de mais alguns dias, consumado o resultado do último apelo do PT à ONU e ao STF, o discurso da chapa PT-PCdoB terá que dar conta da manutenção de uma sensibilização minimamente suficiente por parte do eleitorado e a mobilização social necessária para levar Haddad e Manuela ao segundo turno.

Há uma base objetiva para isso, traduzida pela polarização na sociedade brasileira — e, portanto, no eleitorado — entre a grande maioria que rejeita a agenda Temer e os que a defendem e dela se beneficiam.

Se nas próximas três semanas essa polarização se expressar nas intenções de voto, os mais beneficiados serão Haddad e Ciro.

Alckmin, e mesmo o anêmico Meirelles, além de Marina, tentam esconder o seu comprometimento essencial com essa agenda, temendo perder votos.

Para usar a expressão em voga, a disputa de narrativas nesse sentido mostra-se, assim, essencial ao esclarecimento do eleitor.

E interessa sobretudo à esquerda.

Para tanto, ajustar o rumo — imediatamente após o provável impedimento de Lula — e alcançar o ritmo de campanha necessário é o desafio.

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