A afirmação da política em defesa da democracia

Entre os enormes desafios a serem enfrentados pelo campo progressista no processo eleitoral que já está em curso, talvez o maior deles seja o de levar propostas e projetos políticos a um eleitorado que foi levado a acreditar que os graves problemas pelos quais passa o país podem ser resolvidos fora da política.

Colocar a política no centro dos processos decisórios que resultem em transformações positivas na vida do povo tem sido a característica das forças democráticas nas lutas ao longo de toda a história de um Brasil acostumado a transitar pelos caminhos incertos do autoritarismo. Não por acaso, negar a política como espaço de apresentação e de disputa clara entre os diversos interesses que se colocam em presença na sociedade, explicitando suas contradições e antagonismos, é a estratégia recorrente do campo conservador. Tal negação apresenta-se das mais variadas formas, oscilando entre a desconfiança, a ridicularização e a criminalização.

De antemão, é preciso deixar claro que o sistema político brasileiro, estruturalmente pensado para perpetuar relações obscuras entre o público e o privado com o objetivo garantir privilégios, é passível de todas as críticas. Porém, o que estamos assistindo em nossa história recente é a tentativa recorrente de anular a política como se isto significasse a depuração de todos os males. É bom lembrar que, já nas manifestações de 2013, o discurso “apolítico” vem conhecendo uma trajetória ascendente, como se fazer parte de um movimento político significasse um espécie de contaminação. Nesse processo de desqualificação da política, apaga-se da história o fato de que todas as conquistas em relação a direitos e melhorias nas condições de vida do povo foram conquistas políticas, frutos de disputas políticas, protagonizadas por forças políticas (partidárias ou não) ligadas ao campo progressista.

Na disputa pela presidência da República a negação da política tem sido largamente utilizada por candidatos ligados ao que há de mais retrógrado, para dizer o mínimo. Não poderia ser diferente. Para quem a nega e se diz decepcionado com a política e os políticos só restam duas alternativas possíveis : ou a completa descrença nas instituições e na própria política, o que resvala em um individualismo muitas vezes ingênuo que leva as pessoas a acreditarem que sozinhas e contando apenas com seus próprios esforços estarão imunes às decisões políticas; ou a busca pelo salvador da pátria que, muitas vezes, aparece na forma de figuras bizarras que se aproveitam da ignorância e do medo. No primeiro grupo estão os eleitores que, considerando que “político é tudo igual” irão compor o grupo dos votos brancos ou nulos; no segundo, os que votarão em candidatos, que , por meio de discursos performáticos carregados de violência, oferecem soluções fáceis mesmo que, concretamente, não apresentem nenhum projeto para o país. Ambas as concepções são úteis aos interesses que querem se apropriar de uma vez por todas do Estado brasileiro e coloca-lo a seu serviço.

Frente a esse quadro tão desafiador, é fundamental que as forças comprometidas com um projeto democrático para o país explicitem, sem medo, que as questões mais urgentes e dramáticas que afligem o nosso povo só terão possibilidade de solução quando no centro da política estiver a política e não os que se dizendo neutros e apolíticos fazem a pior política que é a política sem povo, como é o caso da mídia hegemônica e de setores do judiciário que já nem se dão ao trabalho de esconder suas preferências políticas.

Retomar a política como condição para que seja resgatada a nossa tão agredida e ultrajada democracia, eis o nosso desafio.

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