A cilada do ciclo moralista

Reportagens dessa semana dão conta de que um dos filhos de Jair Bolsonaro, o candidato a deputado federal por São Paulo Flávio Bolsonaro, aumentou seu patrimônio em 432% desde 2014.

Segundo o portal Uol, “há quatro anos, Eduardo Bolsonaro declarou ser dono de apenas dois bens: um apartamento (R$ 160 mil) e um veículo (R$ 45 mil). Agora, o patrimônio do parlamentar ainda inclui depósitos bancários, aplicações financeiras e um apartamento de R$ 1 milhão”.

Notícias como essas, quando surgem ao público, são digeridas aos pedaços inteiros por quem se habituou a alimentar-se da carniça servida dia a dia pela grande mídia. Faz-nos lembrar abutres famélicos por comerem as vísceras de um cadáver insepulto, pouco importando se algum naco do intestino venha junto.

Mas estamos falando de uma família que usa dos mesmos métodos, ou seja, se chafurda no moralismo político. Nada mais justo que, agora, seus inimigos o comam, tal como ele próprio já disse literalmente ter comido, correto?

Errado!

Não se trata de puritanismo político, mas do mais absoluto e necessário consenso entre as forças democráticas, progressistas e nacionalistas de que é fundamental combater essa pauta moralista que consome quase a totalidade de nossas energias em detrimento da discussão dos grandes temas por quais nossa nação tanto clama.

Enriquecer, em um país capitalista, não é o objetivo proclamado abertamente por seus defensores? Uma vez provado que o enriquecimento é ilícito, com amplo direito de defesa do acusado e sem as manobras judiciais que recorrentemente usam contra a esquerda, aí sim, comeremos seu fígado. Até lá, continuaremos a defender a presunção da inocência, até mesmo para quem abomina o Estado Democrático de Direito.

Toda e qualquer luta política precisa estar dentro da arena do debate político. Fora disso é cair na cilada do moralismo pequeno-burguês. Essa mesma pauta moralista que serviu de fermento para insuflar as massas odientas que depuseram uma presidenta honesta, mas inábil.

Se Bolsonaro envolveu todos os filhos na política, merece nossos parabéns. Nada mais que isso. Afinal, a participação política (seja em qual esfera for: institucional, movimentos sociais ou na luta de ideias) é digna de reverência.

O alvo da denúncia é o conteúdo da política defendida pelo clã Bolsonaro: o fascismo, o neoliberalismo, o entreguismo…. Tampouco nos interessa se é casado pela terceira vez, se faz uso do auxílio moradia mesmo tendo imóvel em Brasília ou se pagava uma funcionária que vendia açaí nas horas de folga.

Fora da política nos resta a barbárie. Sair da esfera política é cair na esparrela do adversário que se sente muito mais à vontade para jogar em seu próprio campo, em sincronia com sua animada torcida que vibra ao som de cada osso quebrado.

Apenas as ideias são inquebrantáveis. Aquela mesma ideia a qual Lula se referiu que jamais poderia ser encarcerada. A mesma ideologia libertária de um povo que não aceita a truculência, o grito e a estupidez dos moralistas sem moral.

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