O Fascista e o farsante

No teatro armado para o debate entre os candidatos à presidência da República realizado no último dia nove de agosto pela TV Bandeirantes (Band), ficou claro que o multifacetado campo da direita brasileira concentra suas preferências em dois candidatos que, na aparência, defendam perspectivas diferentes em termos de projeto (na verdade, ausência de projeto) para o Brasil. 

Eles representam o que há de pior em termos de riscos para a democracia, de ameaça a direitos e de atentado à nossa soberania.

Um dos candidatos cuja personalidade agressiva e histriônica ganhou destaque nacional a partir da onda de ódio que varreu o país no período que antecedeu as eleições de 2014 e que continuou em ascensão até a consumação do golpe que depôs a presidenta Dilma em 2016. Uma onda de ódio insuflada pela mídia golpista e por setores do judiciário que, demonizando a política e o campo político de esquerda, estendeu seus tentáculos na direção de todas as garantias constitucionais materializadas em direitos necessários para a manutenção de um padrão de convivência e sociabilidade minimamente civilizado.

Sem qualquer projeto para o país, este candidato, tendo passado os últimos anos de sua existência em inexpressivos mandatos de deputado federal, adquiriu, graças a essa onda de ódio, o palanque de que precisava para explicitar , em seus discursos e práticas, todos os elementos presentes no ideário fascista: ódio ao diferente, moralismo exacerbado, apologia da violência, misoginia, homofobia, racismo; tudo isso alardeado em alto e bom som, sem nenhum constrangimento, apresentando-se como um transgressor contra “tudo isso que está aí” , orgulhando-se de ser o oposto do que chama de “politicamente correto”, ou seja, direitos e garantias conquistados a duras penas ao longo de décadas.

O outro candidato, tendo sido governador de um dos estados mais ricos do país, representa a direita “cheirosa” que reveste sua truculência em discursos bem ensaiados onde não faltam palavras como “eficiência” “gestão racional” “competência” e, pasmem, “combate à corrupção”. Palavras que caem no vazio quando de seu envolvimento em escândalos (devidamente escondidos ou minimizados pela mídia golpista) cujo mais trivial trata do superfaturamento da ordem de milhões e que tornam o discurso anticorrupção do candidato uma piada de péssimo gosto. Tais escândalos além de outros desastres de sua administração comprovam que a imagem de gestor competente que tenta passar é uma construção falaciosa, sustentada sobretudo por setores da mídia que tentam desesperadamente compensar sua falta de carisma pessoal e os desastres de suas experiências de governo com encenações grotescas , como “entrevistas’ , reportagens e aparições que têm por único objetivo alavancar sua candidatura.

Essa mesma mídia golpista já fez a sua opção . Inimiga da democracia, demonstra mal-estar diante do candidato que, por seu comportamento bizarro (e não por sua visão retrógrada e anti-democrática) julga inconveniente e inadequado para a efetivação de seus propósitos e das forças obscuras a que serve. Aposta então naquele que tenta passar a imagem de um liberal moderno, preocupado com a eficiência na gestão do Estado que, segundo suas próprias palavras, fica melhor com a privatização do patrimônio público. Um candidato sob medida para a direita “light”, mais palatável, mas que é, de fato, tão entreguista e anti-povo quanto o seu concorrente fascista.

Entre tantos aspectos em comum, o fascista e o farsante também possuem no currículo o apoio ao golpe de estado que alçou Temer , o presidente mais impopular da história do país, ao poder, sendo, ambos, versões pioradas do usurpador.

Considerando a gravidade do momento político para o país e a importância de que se revestem as eleições de outubro próximo, é preciso que essas figuras grotescas e perniciosas para o Brasil sejam diuturnamente denunciadas, pois, cada um a sua maneira, representa o fim dos direitos conquistados pelo povo e a liquidação do Estado brasileiro.

Se o candidato fascista coloca riscos imensos à nossa democracia, a farsa de um candidato que aparece com um verniz democrático , incensado pela mídia, mas que não possui qualquer compromisso com o Brasil e com o povo brasileiro, mas apenas com os mercados, os bancos e as grandes corporações internacionais é igualmente nefasta. Nem o fascista, nem o farsante. O Brasil não precisa de nenhum dos dois.

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