Esporte Interativo e a hegemonia da Globo

Nesta quinta-feira (09), a empresa estadunidense Turner anunciou o fechamento dos canais do Esporte Interativo e a demissão de cerca de 250 profissionais no Brasil. Em comunicado lacônico, que revela o desprezo patronal diante da situação angustiante dos trabalhadores, o império midiático informou que “nós do Esporte Interativo/Turner, agora uma afiliada AT&T, anunciamos hoje que estamos migrando a nossa programação de TV com o futebol nacional e internacional para as marcas TNT e Space…

Os canais serão desativados nos próximos 40 dias e deixaremos de transmitir competições que nos orgulhamos muito durante os últimos anos. Entretanto, as nossas atividades no mundo digital seguem firmes, e continuaremos levando a emoção que o Brasil merece pra vocês através do nosso Facebook, Instagram, YouTube, Twitter, EI Plus e qualquer outra plataforma digital”.

Em entrevista a Samuel Possebom, do site Tela Viva, o gerente-geral da Turner para o Brasil, Antônio Barreto, apontou quatro motivos para a cruel decisão: 1) Retração no mercado de TV por assinatura; 2) Custo crescente dos direitos esportivos; 3) Forte retração no mercado publicitário; e 4) O custo de manter os dois canais do Esporte Interativo no ar. Já Keila Jimenez, do site R-7, culpou sem citar nome a Rede Globo, que hegemoniza a transmissão de futebol no país, pelo fechamento e as demissões. “Os canais Esporte Interativo gastaram muito dinheiro na briga por direitos de transmissão, como na disputa pelo Brasileirão… Venceu algumas dessas batalhas, mas não emplacou em audiência muito menos junto ao mercado anunciante”.

O Esporte Interativo foi lançado em 5 de janeiro de 2014. Em 2015, a operadora Turner se tornou proprietária do canal, que pertencia a Top Sports. A transação foi estimada em R$ 400 milhões. Na época, a iniciativa foi encarada como uma forma de diversificar as transmissões do futebol brasileiro e mundial, contrapondo-se ao monopólio do império global. Mas o projeto não vingou. Esbarrou na grave crise econômica do país, que causou a retração na TV a cabo no Brasil – houve perda de quase 2 milhões de assinantes nos últimos três anos –, e na concorrência desleal da Rede Globo. Na transmissão da Copa do Mundo na Rússia, a emissora obteve direito exclusivo de transmissão dos jogos.

Segundo Nelson de Sá, em artigo publicado na coluna Toda Mídia em 13 de julho, “a audiência da Copa de 2018, nos jogos da seleção, foi cerca de dez pontos maior do que aquela alcançada em 2014, na TV aberta, na Grande São Paulo. Quatro anos atrás, Globo e Band, as duas redes com direito de transmissão, alcançaram respectivamente 35,8 e 9,6 pontos de média de audiência, somando 45,4. Neste ano, a Globo, que agora transmite sozinha, alcançou 55,98 pontos… Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, a audiência até as quartas de final na rede Fox e no canal Fox Sports caiu 32% em relação à transmissão do evento em 2014, feita pela rede ABC e pelo canal ESPN”.

Em tempo: Sobre a crueldade das demissões promovidas pela Turner, a colunista Hildegard Angel escreveu neste domingo no Jornal do Brasil: "Mais chocante que o Esporte Interativo migrar de repente da TV para o digital foi a forma como demitiu 250 de uma vez: notificados por e-mail para uma 'reunião de negócios' em hotel na Barra, os funcionários recebiam à entrada as senhas '1' ou '2'. O RH discursou sobre a mudança e, em seguida, anunciou as demissões: os da senha nº 1, continuavam na empresa. Os nº 2 estavam fora. Triste fim".

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