Mulheres & tráfico de drogas

Pelo crime, considerado hediondo, são condenadas a penas que variam de três a 15 anos de prisão.


A reportagem “Vida de mula”, curta e densa, eviscera um mundo invisível, apesar dos números: “São dez mil as brasileiras presas por tráfico de drogas”; jovens bonitas que carregam cocaína sob a pele por US$ 15 mil; o perfil de quase 80% delas: jovens, bonitas e de classe média; 94% das “mulas” estavam sem atividade regular remunerada antes de serem presas…”


 

   
Pelo crime, considerado hediondo, são condenadas a penas que variam de três a 15 anos de prisão. Há mais de 500 brasileiras acusadas de tráfico de drogas em prisões européias.

 

   
Emílio Françolin, diretorgeral do Denarc-SP, disse: “Hoje em dia, de cada 10 traficantes presos, oito são mulheres” (Alan Rodrigues, “IstoÉ”, 19/4/2006).

 

   
Há presidiárias que “caíram” no tráfico em “obediência” a um parceiro sexual ou afetivo – um indício de subtração de autonomia e de liberdade, que não foram foco da reportagem.

 

   
Nós, as feministas, pouco sabemos sobre mulheres em situação prisional. Apenas duas filiadas à Rede Feminista de Saúde (RFS) atuam junto a presidiárias: Centro de Documentação e Informação Coisa de Mulher (RJ) e Coletivo Feminino Plural (RS).

 

   
Em 2005, prefaciei o livro “A um Passo da Liberdade”, do Coletivo Feminino Plural. É um relato de uma experiência de prevenção em saúde, DST/Aids & dados da pesquisa “Vida, Saúde e Sexualidade das Mulheres no Sistema Prisional”.

 

   
Agradeço à jornalista Télia Negrão – coordenadora do Coletivo e da Regional RS da RFS, também candidata a secretária executiva da RFS, nas eleições de maio próximo – o privilégio de prefaciar o livro, pois pude refletir mais pausadamente sobre questões e situações invisibilizadas e/ou esquecidas e que passam ao largo da agenda feminista.

 

   
Congratulo-me com as autoras pela ousadia em atuar e pensar sobre a vida de mulheres em privação de liberdade na interface das interdições ao exercício da sexualidade e do direito ao prazer, já que dos mais de 100 mil presos condenados no Brasil apenas 4% são mulheres; e de cada grupo de 100 dessas mulheres, 60 estão envolvidas no tráfico de drogas, com idade média de 25 anos, no auge da vida reprodutiva, mas poucas prisões femininas adotam o programa da visita íntima, comum nas masculinas.

 

   
E finalizo com uma inquietação: “Se no Brasil cerca de 60% das presidiárias foram condenadas por envolvimento com o tráfico de drogas, com média de 25 anos de idade, qual o percentual diagnosticado, ao mesmo tempo, como também de usuárias de drogas, nas gradações de uso, abuso e dependência? Que percentual delas poderia ser alocado na Justiça Terapêutica (modalidade de pena alternativa) e se beneficiar do tratamento nãovoluntário?”

 

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor