Intimidade com a dor
A capacidade de adaptação a situações incômodas, o ser humano tem sem limites.
Publicado 09/07/2018 20:40
Vivi isso na própria carne, quando preso político sob tortura, ao sentir que se alterou o limiar da dor em meu corpo quando submetido ao choque elétrico, ao espancamento e ao pau de arara.
Verdade que naquelas circunstâncias a gente está sob tensão extrema e espiritualmente motivada pela própria razão da luta, como acontece com todo combatente na trincheira.
Na vida cotidiana, "em tempo de paz", também.
Pergunto à amiga a quantas anda sua persistente dor de cabeça, típica da tensão emocional.
— Parece que a dor foi embora.
— Então diminuiu a tensão…
— Sabe que não sei se ainda estou tensa, ou não? Realmente, não sei.
Só pode ter se adaptado, a ponto da percepção do incômodo se confundir com outras sensações que se sobrepõem em nosso espírito no correr dos dias, sobretudo para quem realiza intensa atividade no trabalho e na militância.
Tema para especialistas.
Não ouso opinar, pois nem médico me considero mais e bem sei que o progresso científico avança em tempo real, minuto a minuto.
Assim, quando você estiver em dúvida sobre a dor física ou emocional que lhe aflige, será porque ou ela se foi ou se tornou tão íntima que já não incomoda.
E vale tocar a vida adiante. Com o entusiasmo de sempre.