Ecos da Bossa Nova

A importância da data de 10 de julho foi lembrada por Ruy Castro em sua coluna na Folha de SPaulo, com antecedência, na semana passada. Nesse dia, há 60 anos, era lançado o disco “Chega de Saudade”, de João Gilberto, considerado o início da Bossa Nova, o gênero que mudou o cenário musical do Brasil e do mundo.

Castro fez um texto arqueológico, falando dos bares, de onde cada um (João, Nara, Tom, Vinícius etc.) morava e de onde ficava o estúdio da Odeon, que gravou tudo dessa turma, na época. O disco, em formato de LP, em 78 rpm, tinha duas músicas: “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e “Bim-Bom”, uma das raras composições do próprio João Gilberto.

Sua batida inconfundível no violão, dando uma cadência nova ao samba, influenciou uma geração inteira de músicos que depois também passaram a fazer sucesso, em diferentes gêneros. Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento são alguns deles. Mas, encantou o mundo inteiro, passando a ser imitado e reverenciado por grandes intérpretes do jazz.

No entanto, o artigo me trouxe à lembrança outras histórias. Do Joãozinho da Patu, por exemplo, menino de inteligência acima da média, nascido e crescido às margens do Velho Chico, em Juazeiro, na Bahia, terra que ele sempre amou.

Seu pai era um próspero comerciante e músico, tocador de cavaquinho e instrumentos de sopro, que deu um violão ao filho ainda menino. Na adolescência, ele tocou e cantou em vários conjuntos ali mesmo, em Aracaju (SE), onde estudou, e em Salvador, até se mudar pro Rio de Janeiro, em 1950.

No auge da fama, ele ia a Juazeiro e ficava na moita, com a família. Da mesma forma, também andava pela cidade, revendo lugares e visitando amigos, e ia a Petrolina (PE), do outro lado do rio, só que sempre de chapéu de palha e roupas simples, pra não ser reconhecido.

Lembranças também do comunista ferrenho, de carteirinha, o mais radical nas rodas de conversas bossa-novistas, muitas delas no apartamento da jovem Nara Leão, a mais nova da turma.
Disso, quem me contou foi Sérgio Ricardo, o multiartista mais conhecido como músico de protesto, que naqueles tempos era assim, ó, com João Gilberto. Unha e carne. “O João me cobrava toda hora posições mais à esquerda”, lembrou Sérgio.

Mas, agora, aos 87 anos, João Gilberto provavelmente não irá comemorar o aniversário do bolachão “Chega de Saudade”, pois padece de depressão crônica, paranoica, refugiado no apartamento em que mora, no Rio de Janeiro. Mas sua obra encanta as novas gerações.

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