A fase 2 do golpe

Eles já não mais cochicham, tampouco tentam se esconder e dissimular suas atitudes reacionárias. Já se sentem à vontade para abertamente defender o golpe militar, sem que sejam vaiados ou apedrejados por defenderem essa estupidez.

Tal pregação, que no auge da greve dos caminhoneiros e do locaute das transportadoras, foi simbolizada por um “caminhoneiro” apossado de um tanque militar fazendo apelo ao golpe, vai se tornando lugar comum em vários ambientes, inclusive nos legislativos.

A cúpula das Forças Armadas tenta disfarçar sua alegria expedindo, via seus representantes oficiais, declarações protocolares de “censura”, enquanto seus oficiais, sem funções oficiais, fazem ataques aberto a democracia. Não conseguem mais enganar nem mesmo ao mais ingênuo dos terráqueos.

A presidente do STF diz que é grave o momento político e social e que a “democracia é o único caminho legítimo”. Estamos de acordo mas, infelizmente, o STF não teve esse zelo com a democracia quando desconsiderou que Dilma Rousseff tinha sido eleita com 52 milhões de votos e estava sendo denunciada não por ter feito “pedalada fiscal” – o que já seria ridículo – mas sim por não ter se dobrado a chantagem de um comprovado marginal, Eduardo Cunha (PMDB), que eventualmente presidia a câmara de deputados.

A fase 2 do golpe já está sendo tramado abertamente, tal qual nos idos de 1964. Também naquela época o assalto final a democracia, que culminou com a quartelada militar, foi precedido da ofensiva legislativa e judiciária contra a “corrupção” e as “reformas de base” anunciadas por Jango.

Hoje, as “reformas de base” que irritam a direita são exatamente às políticas de inclusão social; defesa soberana do petróleo; uso prioritário dos recursos do pré-sal para a educação; controle do preço de combustíveis para proteger a população mais simples e evitar caos social, como acaba de revelar o locaute de transporte que parou o país; programas econômicos de apoio aos produtores rurais; programas de infraestrutura (habitação, energia, transporte, etc.); ampliação das universidades; aumento real do salário mínimo de 70 para 300 dólares, etc.

Só falta o “povo” na rua e sua marcha “com Deus e a família pela propriedade”.

E há uma outra distinção importante, embora relativa, as quarteladas militares estão um tanto “fora de moda”. A CIA tem priorizado as soluções “legais” (impeachment, por exemplo) devidamente respaldado pelo judiciário.

Dilma Rousseff foi golpeada por executar uma política que com erros e acertos era melhor para o povo, como as evidências hoje demonstram. E Jango foi afastado por, digamos, 10% disso. Hoje a direita sequer ousa falar da causa oficial do afastamento (pedalada fiscal), uma vez que a hipotética cruzada contra a corrupção se era ridícula na época do golpe, imaginem hoje com todos os principais operadores do golpe (PMDB, DEM, PSDB, PP, etc.) atolados até o último fio de cabelo em escândalos de corrupção.

Desnecessário dizer que todo esse mecanismo foi articulado, operado e executado sob a supervisão da CIA americana. A direita brasileira e uma parcela da camada média foram, como sempre, apenas a massa de manobra necessária para emprestar o caráter nacional.

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