Menos mal que o moribundo sobreviva

O movimento dos caminhoneiros (e das empresas transportadoras), ainda inconcluso, trouxe à luz toda a fragilidade do governo Temer.

Sob todos os aspectos: nem soube prever a paralisação, nem dimensionar corretamente a sua extensão uma vez deflagrada e carece de autoridade para celebrar definitivamente o acordo firmado.

Mais: vê uma onda contagiante de repulsa se renovar e se alastrar praticamente em todos os segmentos sociais e em todas as regiões.

A reivindicação básica dos caminhoneiros é justa. O preço do óleo diesel chegou a cifras exorbitantes, comprometendo seriamente a remuneração dos condutores de caminhões por parte dos seus contratantes, as empresas distribuidoras.

O foco — tanto do movimento quanto do governo — é que está errado: não são os impostos o vilão dessa história, é a política de submissão da Petrobras a interesses externos, adotada pelo governo ilegítimo.

A ociosidade de nossas refinarias, em torno de 40% de sua capacidade produtiva, e o alargamento das importações, associados à dependência da variação dos preços do petróleo em âmbito internacional e a indexação ao dólar produzem verdadeiro esfacelamento da produção e da distribuição de combustíveis.

Pagam caro por isso tanto os que transportam cargas, como o povo em geral que depende de transporte coletivo ou usa seus veículos próprios.

Tudo com consequências óbvias sobre o conjunto da economia, mormente a pressão sobre os preços dos produtos de largo consumo, além de reprimir o já anêmico crescimento do PIB e prolongar a estagnação econômica com sérias implicações sobre o emprego e as desorganizadas finanças públicas.

Tudo isso num cenário político de instabilidade e ameaças.

Nesse cenário, há que se lembrar do próprio Temer, quando já em plena conspiração para derrubar Dilma, que dizia ser impossível a um governo se sustentar com apenas 8% de aprovação nas pesquisas.

Nem isso ele tem hoje. Comanda um governo moribundo.

Importa, entretanto, que o moribundo sobreviva até o pleito de outubro. Se cair agora, pior fica — sobretudo pela fragilidade do Congresso e pelo risco de uma solução excepcional, de caráter ditatorial, à margem da Constituição.

Que a sociedade brasileira seja capaz de sobreviver democraticamente até as eleições gerais, das quais poderãp emergir um renovado desenho de forças políticas e um novo pacto social capaz de redefinir os rumos do País.

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