Meio correto, meio equivocado

No próximo domingo (27), o PT fará atos de lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência da República em muitas cidades do país.

Na verdade, conforme se anuncia, manifestações de duplo conteúdo: um grito pela liberdade do ex-presidente, vítima de perseguição, condenado e preso sem provas; e a reafirmação de sua predisposição a disputar o pleito presidencial.

A luta pela liberdade de Lula é bandeira ampla, justa e oportuna, erguida pelo conjunto das forças de esquerda e extensos segmentos democráticos.

A pré-candidatura de Lula é um desejo legítimo do ex-presidente e do seu partido. Nenhuma força política consequente a esse intuito se opõe.

Mas o cenário é muito mais complexo do que poderia parecer a uma apreciação superficial.

No meio do caminho há acirrado entrechoque de forças, pondo em lados opostos golpistas de vários matizes versus correntes democráticas que se apuseram ao golpe e agora agregam setores que participaram do impeachment da presidenta Dilma, mas hoje se postam em oposição ao governo Temer.

Um tremendo poço de areia movediça. Nada simples, nem seguro; tudo arriscado.

Considerando-se a atual composição do Congresso Nacional, o poderio do complexo midiático, a parcialidade e a militância ativa do Judiciário e do aparato policial, o campo golpista ainda reúne mais força do que a oposição, ainda que temporariamente disperso em torno de várias pré-candidaturas presidenciais.

Na oposição, falta convergência de pensamento e de ação, indispensável à exploração das contradições no campo adversário e — sobretudo — à conquista de uma maioria eleitoral.

Entre os blocos litigantes, há a imensa maioria do povo eleitor, ainda atônito e carente de perspectiva, que pode se inclinar para um lado ou para o outro.

Nesse contexto, não confundir o sentimento de solidariedade a Lula e a sua supremacia em intenção de votos nas pesquisas com força real e suficiente para vencer as eleições.

As quatro vitórias sucessivas alcançadas pelo próprio Lula e por Dilma se viabilizaram através de frentes amplas e diversificadas. Desde o primeiro turno.

Agora, com um PT chamuscado e só, a pretensa apresentação de uma chapa “puro sangue”, formada por Lula e Haddad ou Amorim de vice, não sinaliza para uma composição ampla; antes passa a mensagem de que o PT resolve cuidar de si mesmo, pondo a segundo plano a busca de uma frente ampla politicamente consistente e eleitoralmente viável e, por conseguinte, priorizando o objetivo particular de eleger seus parlamentares, em detrimento dos destinos da nação..

Lula merece a solidariedade de todas as forças democráticas. Mas a senda isolada do PT não pode contar com a simpatia dessas forças, nem conquistará a maioria eleitoralmente necessária.

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