Desafios para uma Amazônia sustentável

No último dia 20 do corrente o Centro de Ciências do Ambiente (CCA/UFAM) e a Fundação Mauricio Grabois (FMG) realizaram, em Manaus, um importante seminário para debater quais são os desafios para impulsionar o desenvolvimento da Amazônia em bases sustentáveis.

Um auditório superlotado, com mais de 350 participantes, ouviu atento a exposição do Reitor da UFAM, Prof. Doutor Sylvio Puga; do presidente de honra da SBPC, Doutor Ênio Candotti; da Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB, AM); do Diretor do NAEA-Pará, Prof. Doutor Durbens Martins; do Diretor do CCA, Prof. Doutor Eron Bezerra; e da representante da FMG e presidenciável pelo PCdoB, Deputada Manuela D’Avila.

Minha modesta contribuição foi tentar sintetizar em Qual é o desafio central? as 4 questões que eu considero essenciais nesse debate sobre a Amazônia: assegurar a soberania nacional sobre a região; aprofundar o conhecimento científico e tecnológico; assegurar infraestrutura adequada; verticalizar a produção e agregar valor à sua biodiversidade.

Assegurar a soberania nacional sobre a Amazônia. O presente e o histórico não deixam dúvidas quanto a essa necessidade, como demonstra os escritos de alguns ilustres visitantes.

Cristóbal de Acuña (1642), comparava o espaço amazônico a outros espaços geopolíticos como o vasto império da Etiópia de então, cujo território ocupava um espaço de 900 léguas; a China, que assombrava o mundo por encerrar em 2 mil léguas de fronteira, 15 diferentes reinos; e o Peru, com 1.500 léguas, que ia do Novo Reino de Granada até os confins do Chile e concluía que se esses impérios eram tão importantes, o que dizer do Amazonas, em cujo espaço de quase 4 mil léguas de contorno, possuía mais de 150 nações de línguas diferentes, cada uma delas suficiente, por si só, para formar um vasto reino e, todos juntos, um novo e poderoso império;

Alfred Russel Wallace (1848) sustentava que a indolente disposição do povo e a falta de braços para a lavoura impedem o desenvolvimento e exploração de todas as possibilidades desta rica região, “enquanto não se estabelecer colônias de norte-americanos e de europeus”;

E Louis Agassiz (1865) foi ainda mais explícito ao questionar se “a Amazônia deveria ser utilizada para navegação ou agricultura”?, o que anos depois serviria de base para a teoria dos “grandes lagos”, idealizada pelo futurólogo americano Herman Kahn do Instituto Hudson de Nova York, pelo qual se pretendia inundar a Amazônia para “facilitar a navegação”. E ao questionar se “não devia a emigração afluir em ondas para essa região tão favorecida pela natureza e tão vazia de homens”! Agassiz foi ainda mais específico. Certamente foi esse postulado que inspirou o então ministro do interior da ditadura militar a proclamar que a Transamazônica era “uma estrada para levar homens sem-terra a uma terra sem homens”.

Aprofundar o conhecimento Científico e Tecnológico não pode ser mera retórica. Aprofundar o conhecimento científico e tecnológico sobre a região é o desafio central de qualquer governo que pretenda desenvolver a região em bases sustentáveis, sem o concurso da qual o país terá seu crescimento condicionado.

Assegurar infraestrutura adequada, é uma exigência básica ao desenvolvimento de qualquer região do planeta e especialmente na Amazônia, pelas suas dimensões continentais e elevada complexidade. Ao mesmo tempo é preciso, sem prescindir de outros instrumentos, aproveitar o potencial natural da Amazônia, como transformar seus inúmeros rios em hidrovias navegáveis ao longo do ano.

Verticalizar a produção e agregar valor à biodiversidade. Sem verticalizar a produção e agregar valor à matéria prima regional não será possível falar em desenvolvimento sustentável, na medida em que não se superará a dependência de insumos importados como hoje, lamentavelmente, ainda faz a Zona Franca de Manaus. Experiências como da fábrica de bacalhau da Amazônia, que transformou pirarucu (Arapaima gigas) em bacalhau é um exemplo que pode ser potencializado.

Fábrica de Bacalhau, em Maraã, Amazonas

E depois desse extraordinário seminário a presidenciável Manuela D’Ávila ainda participou de um grande ato político com mais de 600 pessoas na Assembleia Legislativa e grande representatividade. No dia seguinte Manuela fez uma visita ao “encontro das águas”, onde as águas negras do rio Negro (mais escuras) lutam para não se misturar com as águas amareladas do rio Solimões. Imagem única!

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