O voo de Joaquim Barbosa

Foi grande a revoada de políticos que trocaram de partido antes do encerramento do prazo, dia 7 de abril. Mas, chamou bastante atenção não foi uma troca e, sim, a primeira filiação do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que passou a fazer parte dos quadros do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

O novo político de partido deixa de ser político togado pra encarar uma aventura que foi estudada meses a fio, pois ele nunca escondeu sua intenção de se candidatar ao cargo de presidente da República nas eleições de outubro vindouro. A garantia da vaga de candidato não ficou explícita na filiação, mas, por debaixo do pano, foi dito que as chances de que isso de fato ocorra são bastante grandes.

Um primeiro estrago ao PSB ele já causou na chegada, pois o ex-ministro Aldo Rebelo deixou o partido. Rebelo havia deixado o PCdoB não faz muito tempo justamente em busca de uma agremiação que, no seu entender, viabilizasse sua chegada ao Palácio do Planalto. Mas a aterrissagem de outro candidato de alto coturno em sua nova sigla jogou água fria nessas pretensões.

Agora, fluem as conversas com vistas a possíveis alianças nas urnas, em outubro, e uma possibilidade que se avizinha é a do PSB com a Rede, o partido que não quer ser partido da evangélica acreana Marina Silva. Desde logo, porém, surge um pequeno impasse nas negociações: quem seria cabeça de chapa e quem ficaria na vice. Osso duro de roer, já que os dois preferem o Palácio da Alvorada pra morar.

Pesquisa do Instituto DataFolha (de 11 a 13 de abril), porém, Marina ficaria adiante de Barbosa, caso Lula não seja candidato, tecnicamente empatada com Jair Bolsonaro (PSL), ela com 15% e ele com 17% dos votos. Em seguida, vêm Ciro Gomes (PDT) e o ex-ministro do Supremo, ambos com 9%.

Marina entra em desvantagem, contudo, quando o quesito em pauta é a estrutura partidária pra encarar uma campanha à Presidência da República. A Rede, com apenas dois deputados federais em seus quadros, terá pouco tempo de rádio e tv e dinheiro minguado. De quebra, votou a favor do golpe do impeachment de Dilma Rousseff, o que dificulta a transferência de votos de Lula e do PT.

E Barbosa, por sua vez, traz a marca de precursor da Operação Lava Jato, por ter partidarizado a justiça na época do Mensalão, penalizando severamente lideranças do PT, como o ex-deputado José Genoíno. Talvez por isso, a mesma pesquisa revela que tanto ele quanto Marina ficariam atrás dos votos brancos e nulos nas regiões Norte e Nordeste, caso Lula não participe do pleito.

Os dois empatam, também, no discurso de gente humilde que venceu na vida por méritos próprios. Ela, a filha de seringueiros que foi alfabetizada aos 16 anos de idade. Ele, o menino pobre de Paracatu (MG), negro, arrimo de família, que trabalhava à noite pra estudar de dia na Universidade de Brasília (UnB).

Ela, que foi ministra dos governos de Lula por longos sete anos e saiu atirando pra trás, dizendo que nada podia fazer na área ambiental. Ele, apadrinhado do procurador-geral e ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, pinçado por Lula em uma lista de quinze nomes pra também virar ministro do Supremo Tribunal Federal, o primeiro negro no cargo.

Marina nunca deixou a vida de política e apenas tenta novos passos numa carreira que ela acredita ainda ter muito espaço pra crescer. Barbosa, no entanto, deixa a quietude de uma aposentadoria bem remunerada pra usar a imagem de justiceiro incorruptível e decolar rumo ao cargo que sempre sonhou ocupar.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor