Luta de classes na Venezuela

Karl Marx e outros pensadores notaram que a luta de classes tem sido o fio condutor do movimento da sociedade humana na história pelo menos desde o fim do chamado comunismo primitivo. “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem si

Esta verdade, reiterada depois por Lênin e outros líderes revolucionários, não transparece à primeira vista na superfície dos fatos nem é percebida pelo senso comum; no mais das vezes é falseada ou escamoteada pelo pensamento dominante. Por isto, é oportuno evocá-la na análise da conjuntura política atual, em especial tendo em vista os acontecimentos em curso na Venezuela, onde a marcha de uma revolução que não faz segredo dos seus objetivos antiimperialista e anticapitalista acirra as contradições políticas, divide opiniões e desperta fortes paixões.


 



Uma guerra entre capital e trabalho


Sob uma ótica marxista não é difícil enxergar na agitada arena política do país vizinho a evolução radicalizada da luta de classes, cujos personagens principais são, nesta altura da vida, os mesmos que Marx apontava, no século 19, como protagonistas do drama social moderno: o capital, de um lado, e o trabalho, do outro.


 



Parece claro, hoje, que as pessoas que lideram a oposição ao governo Chávez, assumindo uma posição abertamente contrarevoluciária e pró-imperialista, encarnam os interesses do capital. São representantes da grande burguesia financeira, das transnacionais dos Estados Unidos e outras potências capitalistas; do imperialismo em geral; associados às classes dominantes locais (burgueses e latifundiários).


 



De outro lado, não devemos duvidar que o programa e as iniciativas da revolução bolivariana têm por fundamento os interesses e as aspirações históricas da classe trabalhadora, aqui compreendida, num sentido mais amplo que o habitual, como o conjunto da população trabalhadora, assalariados da cidade e do campo, desempregados, subempregados, autônomos, camponeses sem terra e pequenos proprietários rurais.


 



A bandeira do socialismo


 


São muitos os exemplos concretos que ilustram os vínculos da revolução e de seu principal dirigente, o presidente Hugo Chávez, com a classe trabalhadora. É o caso, entre outros, dos decretos sobre a reforma agrária, as pescas e os hidrocarbonetos; valorização do salário mínimo (agora o maior da América Latina); redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais até 2010; revisão das privatizações promovidas pelos governos neoliberais e nacionalizações em setores estratégicos da economia que estavam sob controle das multinacionais.


 



O compromisso com a construção do socialismo do século 21 e as iniciativas que têm sido adotadas nesta direção – incluindo a instalação de fábricas socialistas, as nacionalizações, a aposta na democracia participativa e a instalação de conselhos populares (já foram criados cerca de 20 mil desde 2006) – definem e fortalecem o caráter social, proletário, da revolução bolivariana. A este respeito, é oportuno lembrar, aqui, as palavras proferidas por João Amazonas em entrevista à revista “Debate Sindical” (nº 41):


 



“Os trabalhadores devem ter presente que o socialismo é a sua grande bandeira, a sua grande aspiração de progresso e de libertação da opressão capitalista”. 


 


Histeria capitalista


 



A defesa do socialismo reveste-se de particular importância neste momento histórico, ainda fortemente influenciado pelas idéias e políticas neoliberais que ganharam ares de verdades absolutas após a queda do Muro de Berlim. Não é de estranhar, portanto, a reação histérica das hostes capitalistas e de sua famigerada mídia contra a revolução e o presidente Hugo Chávez, taxado pelos representantes do capital financeiro de autoritário, populista, fanfarrão e demagogo devido à sua firme determinação de destruir o velho regime e abrir caminho para o socialismo do século 21. O ruído reacionário dos meios de comunicação monopolizados pela burguesia reflete a luta de classes no plano ideológico.


 



Assim como não se faz um omelete sem quebrar os ovos é também impossível promover uma verdadeira revolução social sem contrariar interesses de classes, que no caso estão profundamente enraizados. A reforma agrária se choca com os interesses dos latifundiários, as nacionalizações não são do agrado das transnacionais, a semana de trabalho de 35 horas assusta os capitalistas e assim por diante. A dura experiência histórica sugere que uma revolução que se preza não pode se dar ao luxo de tratar um inimigo poderoso e sem escrúpulos à base da paz e amor.


 



Hipocrisia burguesa


 


A mídia capitalista recorre ao expediente nazista de transformar mentira em verdade à base da repetição e massificação para mascarar o verdadeiro caráter de classes da luta política em curso na Venezuela e vilipendiar seus líderes, apresentando o drama político como um embate entre autoritarismo e democracia. É uma hipocrisia sem medidas.


 



Conforme notou o grande escritor e comunista português José Saramago, Hugo Chávez já se submeteu “sete vezes às urnas e venceu todas” (www.vermelho.org.br/base.asp?texto=21352). Foram os inimigos do presidente que recorreram a um golpe militar fascista, em abril de 2002, na vã e desesperada tentativa de reverter o processo revolucionário, defendido com vigor pelo povo e setores (majoritários) das Forças Armadas. O tiro saiu pela culatra, a radicalização da luta política renovou as energias revolucionárias.


 



Ficou fartamente comprovado que o putsch malfadado foi urdido em Washington. Para que não restassem dúvidas quanto à sua natureza de classe, foi liderado por um destacado líder capitalista, o breve Pedro Carmona, que à época presidia a Fedecamera, principal associação empresarial venezuelana. Seria preciso mais para comprovar a oposição do capital e dos capitalistas (enquanto classe) à revolução bolivariana?


 



Pequena burguesia em disputa


 


Para Marx e Engels, capitalistas proprietários dos meios de produção (burgueses), de um lado, e trabalhadores despojados desses meios (proletários), do outro, constituem as duas classes fundamentais do sistema social moderno, classes antagônicas e em perpétua luta. Porém, não são os únicos atores desta nossa história


 



É certo que, no jogo político, formações sociais intermediárias entre as duas classes fundamentais, geralmente identificadas como a classe média ou pequena burguesia (assalariada ou proprietária), também têm seu peso e papel, oscilando (no caso) entre as trincheiras do capitalismo neoliberal e a revolução bolivariana.


 



Vacilante por natureza, conforme já observava Lênin, a pequena burguesia é particularmente sensível ao canto de sereia da mídia capitalista em torno da “democracia” e tem sido alvo freqüente das manipulações contra-revolucionárias golpistas lideradas pelos porta-vozes do capital financeiro. Seu posicionamento político não é desprezível e pode ser decisivo. Por isto, é um segmento em disputa, que as forças da revolução devem procurar ganhar ou, ao menos, neutralizar.


 


Classe e nação


 


É notável na experiência da revolução bolivariana o entrelaçamento entre as chamadas questões nacional e social. O caráter antiimperialista do processo em curso, que tem nos EUA seu principal inimigo, é indubitável. Trata-se da iniciativa política mais ousada e avançada na América Latina em prol do direito à autodeterminação dos povos e da soberania nacional. E os fatos sugerem que, na atualidade e destacadamente em nossa região, não é possível desvincular a questão nacional da luta de classes.


 



Há muito, os grandes capitalistas da Venezuela andam de mãos dadas com os imperialistas dos EUA e da Europa; já nada têm de patriotas; capitularam à concupiscência das transnacionais, a quem cederam a exploração sem peias das riquezas naturais do país; seus representantes governaram de costas para o povo e penhoraram os interesses da nação junto à banca internacional e ao FMI, em nome da “globalização neoliberal”. Por tudo isto, a questão nacional vem assumindo, simultaneamente, um nítido caráter de classe.


 



O presidente Hugo Chávez percebeu, depois de muitas provas, que o projeto de libertação nacional e integração solidária dos povos latino-americanos não pode ser conduzido a bom termo pelas mãos sujas da grande burguesia; que o capitalismo neoliberal não rima com soberania. Com razão, defende a valorização do trabalho e enxerga no proletariado o protagonista da transformação social. A revolução que dirige vem em boa época e o tempo parece conspirar a seu favor na história.


 



Embora possa não parecer, o sistema imperialista hegemonizado pelos EUA não é perene e está em crise (econômica, política e militar), a ordem monetária ancorada na supremacia do dólar, corrompida pelo déficit comercial e pelo parasitismo, entrou em decomposição. O inimigo é poderoso, mas não é invencível. As forças políticas identificadas com a luta antiimperialista e a justiça social não devem vacilar em empenhar toda solidariedade à revolução bolivariana e ao presidente Chávez. É na batalha entre sombra e luz que se fecunda a história e o futuro pede passagem. 


 


 
Viva o socialismo do século 21! 


 

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