Fogo amigo: a eterna inocência da esquerda brasileira

O mês de Março se inicia do mesmo modo que acabou Fevereiro: com a esquerda batendo cabeça entre ela mesma e a direita nadando de braçada. Triste constatar isso, mas é fato.

As quatro pré-candidaturas anunciadas (ou em vias de) do campo popular se consideram herdeiras, de forma direta ou indireta, do lulismo. A candidatura do PT, que segue insistindo em Lula, é a principal delas. Apesar do ar messiânico e imenso apoio popular, é cada vez mais improvável a candidatura do ex-presidente no atual cenário político do país.

A segunda mais forte é a do PDT, do sempre polêmico Ciro Gomes. Parafraseando o ex-jogador Romário, o pedetista calado é um poeta, afinal de contas sua irresponsabilidade com as palavras é seu maior adversário, mais até que o candidato petista.

Em terceiro lugar aparece a candidata do PCdoB, Manuela D'ávila. Os comunistas não apresentam candidatura própria a presidente desde a década de 1940, sendo fiéis aliados do PT desde 1989. Com o golpe de 2016 e a chance real do partido voltar para a ilegalidade (precisa alcançar um percentual mínimo de votos para seguir existindo leglmente), a candidatura da deputada estadual gaúcha parece se tornar cada vez mais real.

Por último, temos o possível nome de Guilherme Boulos pelo PSOL. Apesar de ainda não confirmada e com algumas correntes trotskistas internas da agremiação se mostrando contrária a esta filiação, sua chance de se tornar o candidato psolista é real. Aqui cabe um adendo: mesmo sendo eternamente considerada a costela esquerda do PT, o PSOL, caso tenha mesmo Boulos como seu postulante ao cargo máximo da nação, irá surfar na onda do lulismo, afinal de contas o líder do MTST não esconde de ninguém seu respeito e admiração pelo ex-presidente, fato que causa rusgas, inclusive na militância da legenda.

Outro partido do campo democrático que chegou a pensar em ter candidatura própria, mas pelo andar da carruagem parece estar desistindo é o PSB. O nome de Joaquim Barbosa parece não ter decolado nem internamente, e a tendência dos socialistas é de debandada, com cada grupo estadual apoiando quem bem entender (ou preferir).

Ora, podemos listar aqui facilmente que os cinco maiores partidos de centro-esquerda do país parecem tomar caminhos diversos, o que é interessante do ponto de vista do debate programático, mas preocupante do ponto de vista tático.

O fascista Bolsonaro, segundo pesquisa recente do não tão confiável Instituto Paraná Pesquisas, mostra-se em primeiro lugar em São Paulo, maior colégio eleitoral e mais importante estado da federação.

Outro representante da direita, mas agora dos neoliberais convictos, Alckmin, sempre aparece acima dos 10% de intenções de votos, número próximo da ex-ministra, ex-petista, ex-verde, ex-socialista, ex-tudo Marina Silva. Cabe destacar ainda Luciano Huck, que pode ser a carta na manga da Globo e da mídia golpista, mas ainda em fase de ensaio.

Pois bem, de um lado temos a esquerda dividida e do outro, em teoria, temos também a direita. A primeira vista, parece que está tudo mesmo repartido. Mas será mesmo?

Paulo Maluf, um dos maiores polêmicos caciques políticos da história recente do país, disse uma vez: “no Brasil existe a direita e as esquerdas”. Em clara alusão a eterna dificuldade de unidade do campo popular, este jargão do ex-prefeito paulistano é, no mínimo, simbólica. Prova disso são as recentes entrevistas e Ciro Gomes e Lula, onde um atacou o outro de maneira totalmente irresponsável, parecendo esquecer quem é o inimigo real a ser combatido.

A dificuldade de se perceber que a estrada vai além do que se vê e a chance do país eleger, nas urnas, um representante da plutocracia e do imperialismo é cada vez mais real. O exemplo da última eleição francesa não parece tão distante de acontecer no Brasil.

E aí? O que fazer? Debater juntos um projeto de nação tendo no centro uma concepção desenvolvimentista ou construir cada um o seu caminho até onde der?

Façam suas apostas!

Até a próxima.

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