O ataque iminente ao Irã

Estava em dúvida sobre qual título dar à nossa coluna semanal (que hoje leva o número de 195). Já usei título como “O cerco ao Irã” e a “Síria sob a mira do Império”, sempre em alusão às amea

Aqui há que se fazer uma distinção entre ataque seguido de ocupação territorial e um possível e quase certo ataque por ar, usando aviões estacionados em bases seja na Arábia Saudita, Kuwait, Turquia, Diego Garcia e mesmo porta Aviões no Golfo de Omã (Oceano Índico, fora do Golfo Pérsico, que alguns preferem como Arábico).
           
Um ataque aéreo, que se seguisse à ocupação terrestre, seria de execução muito difícil e demandaria muito tempo. Isso porque o deslocamento de tropas para essa operação, teriam que ser deslocadas de bases americanas distantes e mesmo do próprio território estadunidense. Transporte de homens, que levam mais de 60 quilos de equipamentos, é uma operação de logística inimaginável. Deslocar cem mil, cento e cinqüenta mil homens a mais de dez mil quilômetros demanda uma “operação de guerra”. Na I Guerra do Golfo de 1991, a operação de deslocamento de tropas demorou de agosto de 1990 a janeiro de 1991 (invasão terrestre). A II Guerra, em março de 2003, teve início com deslocamentos de tropas desde setembro do ano anterior.
           
Assim, ainda que não descarte essa possibilidade, de ataque e tentativa de ocupação terrestre pelos americanos de território iraniano, acho pouco provável que ela ocorra de imediato ou mesmo que possa vir a ocorrer, mesmo mais adiante. Não teria apoio do Conselho de Segurança da ONU, que precisa de unanimidade para isso, mesmo que o assunto nuclear seja  mote principal. A Rússia já anunciou que não aceita esse tipo de solução e prefere a via diplomática. Ou seja, se uma agressão for adotada por Bush, o que acho que vai ocorrer, de alguma forma, será, mais uma vez, unilateral e não terá apoio da maioria dos países membros da ONU.

Qual ataque?
           
O repórter especial da Folha de São Paulo, Sérgio Dávila, num despacho enviado de Washington (1), anuncia o que vários outros e grandes órgãos de imprensa vêm dizendo. Trata-se de conter, de alguma forma, o regime de Teerã, sob a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, considerado de linha radical, interrompa as suas pesquisas nucleares, mesmo que reiteradamente para fins pacíficos. Washington crê com firmeza que o Irã busca a bomba nuclear. E mesmo que fosse, no limite os países podem ter o direito de realizarem suas pesquisas, sempre sob supervisão internacional. Mas, não é o que ocorre. O Irã quer ter o direito de usar a energia nuclear para energia e para a medicina, tal qual o Brasil também almeja.
           
Nenhum especialista em energia atômica, nenhum físico, seria hoje, em sã consciência, capaz de afirmar que o grau de desenvolvimento da pesquisa nuclear iraniana fosse capaz de fabricar um artefato nucelar, por mais fraco que fosse. Isso necessitaria de muito urânio enriquecido, por centenas de centrífugas, coisa que eles não possuem. Fala-se em alguns anos para, se fosse o caso – mas não é – ser fabricado uma bomba. No entanto, apesar disso, ao que tudo indica e pelos sinais que vem sendo emitidos, Washington quer “castigar” o país e destruir a sua capacidade enriquecedora de urânio.
           
Para isso – e ai entra a estratégia do ataque – a idéia é fazer o que Israel fez bem lá atrás contra o Iraque de Saddam Hussein em 1981: ataque por ar apenas e exclusivamente nas instalações nucleares. Só que há uma imensa diferença. No Iraque era apenas uma localidade e relativamente próxima do ponto de vista territorial de onde os aviões israelenses partiram. No caso do Irã, teriam que ser atacados e destruídos pelo menos oito grandes instalações, espalhadas por todo o território nacional e muito distantes uma das outras e sem ligação alguma uma com a outra. São elas: Natanz (enriquecimento); Isfahan (conversão); Saghand (mineração); Ardkan (purificação); Bushhehr (construção de reator); Arak (reator de pesquisa); Gehine (instalação para mineração e enriquecimento) e Teerã (enriquecimento). Fisicamente falando, para que fossem destruídas todas essas instalações, os EUA teriam que bombardear cidades espalhadas em várias regiões do Irã, especialmente a sua capital, Teerã.
           
Dessa forma, vê-se que a operação é complexa não só do ponto de vista geográfico, mas também político, pois os custos em relação às vidas que seriam ceifadas seriam elevadas e a reação política seria imediata. Esta semana mesmo, a imprensa falava da possível existência de mais de 50 mil iranianos dispostos a se transformarem em homens-bombas (e mulheres também), dispostos a dar as suas vidas em atentados contra alvos americanos em qualquer lugar no mundo.
           
A ocupação por terra esta descartada não só pelo fato que e em si difícil e custosa, militar e economicamente, mas pelo fato que o exército iraquiano é muito mais bem treinado do que era o iraquiano. Dados preliminares disponíveis indicam que o Irã tem hoje pelo menos 1.600 tanques de guerra, mais de oito mil peças de artilharia e pelo menos 280 aviões de combate. Dados oficiais falam em pelo menos 350 mil homens em armas regularmente treinados. Isso foram mais de um milhão de militantes, os chamados Mujahedins, guerrilheiros islâmicos dispostos a dar tudo pelo seu país. Dessa forma, não tenho dúvida, que o ataque não seria terrestre, mas sim aéreo e pode se dar a qualquer momento, mas os custos humanos e posteriormente políticos seriam grandes, na medida em que a reação seria imediata, tanto do governo iraniano, como especialmente de seu povo, que vem sendo preparado e conscientizado desde a revolução islâmica de 1979, para dar enfrentamento ao imperialismo norte-americano.

Desdobramentos e a posição do Brasil
           
O jogo da política internacional é, como o nome mesmo esta dizendo, um jogo. Existe até uma teoria, em Ciência Política e Política Internacional, chamado de “Teoria dos Jogos”. Durante alguns dias Bush nem negou, nem confirmou a informação de que o ataque estivesse sendo montado e discutido pelo alto comando militar americano.
           
Apesar de críticas de vários generais de alta patente da reserva dos Estados Unidos ao acúmulo de erros perpetrados pelo governo americano na invasão do Iraque e da popularidade do presidente americano se encontrar nos níveis mais baixos desde a sua primeira eleição e dos mais baixos da história dos últimos nove presidentes, uma declaração mais decente de Bush não descartar o uso da força militar, ainda que se fale sempre em “esgotar todos os caminhos da diplomacia”.
           
Esse será um dos assunto que fará parte da pauta das conversações que se iniciam neste dia 20 de abril em Washington, quando se encontram para novas rodadas de conversas o presidente americano e o presidente Chinês, Hu Jintao. Entendo difícil uma posição direta e de enfrentamento da diplomacia chinesa, mais preocupada em arrumar a sua casa e corrigir os rumos de sua economia. Mas, se Bush insistir em sanções ao Irã no CS da ONU, é possível que a China se alinhe com a Rússia, no sentido de uma linha mais diplomática, concedendo amplos poderes para a Agência Internacional de Energia Atômica, recentemente ganhador inclusive do prêmio Nobel da Paz.
           
O que nos surpreendeu recentemente foi a declaração do ex-presidente do Irã, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, considerado um moderado, que inclusive perdeu as eleições para o atual Ahmadinejad. Este disse que além de graves as insinuações sobre possíveis ataques ao Irã, isso traria muitas conseqüências. E afirmou que o Irã irá resistir, o que demonstrar uma certa unidade interna na prática e no discurso dentro e fora do governo. Não tenho dúvidas que o Irã seria muito diferente do que foi o Iraque, caso os americanos optem mesmo pelo uso da força.
           
Por fim, não poderíamos deixar de tecer um breve comentário sobre a posição da diplomacia brasileira. Dificilmente o país apoiaria uma ação militar americana contra o Irã, ainda que provavelmente apoiará que se continuem as inspeções nucleares e pedirá que o Irã coopere de todas as forças para se evitar o confronto. No entanto, poderemos viver uma situação semelhante, pois também realizamos pesquisas com energia atômica objetivando fins pacíficas, científicas e medicinais, mas também queremos nossos submarino nuclear, que vem sendo construído pela nossa marinha de guerra.
           
Vamos continuar o monitoramente, mas desde já deixamos nossas solidariedades ao povo iraniano contra a possível e eventual agressão a que possa vir a sofrer.

Tribunal Bush
           
Será finalmente instalado no II Fórum Social Brasileiro, que começará hoje, dia 20 de abril, quinta-feira, o Tribunal Internacional dos Povos, seção brasileira, que irá julgar Bush e os EUA pelos seus crimes de guerra contra a humanidade. Para isso chega ao Brasil o renomado teólogo belga François Houtart, que é membro do Tribunal Internacional dos Povos e participou de tribunais desse tipo em vários países do mundo, especialmente da Europa.
           
A iniciativa é do Cebrapaz, entidade da qual somos diretores e presidida pela combativa deputada paraense Socorro Gomes, do PCdoB, que deve proceder a instalação do Tribunal às 14h desta sexta-feira, dia 21 de abril, na tenda central do II FSB. O evento conta com o apoio até o momento de pelo menos as seguintes entidades: ABI; CGT; CGTB; CMP; CONAM; CONEN; CONTAG;  CUT; CONTEE; FENAJ; FENAM; MST; Pastorais Sociais da CNBB; UBE; UBES; UBM; UJS e da UNE. Aproveito esta coluna para convidar as pessoas que estarão na cidade de Recife entre os dias 20 e 23 de abril para o IIFSB, a participarem dessa importante atividade.

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