A injustiça contra Lula para além da emoção

A luta segue. Sem tréguas. De ambos os lados: na grande mídia, hoje, o registro (acanhado) das manifestações de rua em solidariedade ao ex-presidente e a comemoração (explícita) de sua condenação e o apelo para que venha a ser preso e impedido de concorrer no próximo pleito.

A parada é dura. Prolongada. Plena de obstáculos e desafios — sobretudo táticos, pois o emaranhado de armadilhas e o jogo pesado que emergem do Judiciário, do Legislativo e do Executivo (nessa ordem) impõem o bom combate com muito juízo, para além da justificada emoção.

O que vimos nas ruas em Porto Alegre anteontem e ontem também em São Paulo e pelo Brasil afora, com repercussões e repiques internacionais, anuncia um elemento tão vigoroso quanto essencial: a expansão das vozes das ruas disseminadas no conjunto da sociedade.

Lícito é avaliar que a resistência democrática tende a crescer na esteira do sentimento de injustiça contra Lula — e a afirmação do legado do seu governo — em contraposição à desgraça social e política perpetrada por Temer e seu grupo, a serviço do Mercado e dos interesses estrangeiros.

Uma espécie de "contraste visual" que toca fundo à emoção das pessoas. E nada é mais corrosivo (contra quem a pratica) do que a percepção da injustiça.

Mas a luta que segue, vale sublinhar, tem dimensão bem além do que a solidariedade a Lula e as iniciativas com a marca do Partido dos Trabalhadores. Trata-se da luta pela democracia e pela soberania do país — como o próprio Lula acentuou ontem, em discurso na Praça da República, em São Paulo.

Então, concomitantemente com a defesa do direito de Lula se candidatar à presidência, há que se ampliar o debate acerca de alternativas para a crise.

Nesse debate, que a realidade reclama consciencioso, aprofundado, amplo, cabem as contribuições de pré-candidaturas à presidência, como a de Ciro Gomes (PDT) e Manuela D'Ávila (PCdoB) e de outras que venham a ser apresentadas.

Como bem assinala a nota do PCdoB assinada por Luciana Santos e Manuel D’Ávila, o golpe foi consumado para implementar um violento projeto de recolonização do país, que inclui a destruição dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e a reafirmação dos interesses do rentismo parasitário. Esse programa não aceita a democracia porque não pode ser implementado sem calar o povo, cassando-lhe o direito ao voto, perseguindo suas lutas e seus dirigentes.”

Numa luta de tamanha dimensão, não cabe exclusivismo. A pluralidade de ideias pode e deve desaguar numa plataforma comum que viabilize a unidade das forças democráticas e progressistas no pleito de outubro, já no primeiro ou no segundo turno.

Que os protestos se repitam e se ampliem e emoção flua como estímulo ao combate. E, ao mesmo tempo, avance a reflexão e o debate sobre os rumos do país.

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