A força das ruas

As manifestações de rua têm comprovado, nos últimos anos, que ainda são uma (ou a mais) eficiente forma de expressão da vontade popular. Governantes de todos os patamares, em todo o mundo, quase sempre aliados ao poder econômico, podem temer a mídia e os adversários políticos, mas são as vozes que vêm das praças e avenidas que falam mais alto, provocam calafrios.

No Brasil, a tradição era de que as manifestações de rua tinham algo a ver com o Estado, contra ou a favor, com pautas bem claras de demandas. Bem diferente de países como a França, berço dessa moderna forma de participação política, onde normalmente elas têm um sentido próprio, ignorando o aparelho estatal, com um caráter anarquista, portanto.

No entanto, as multidões que tomaram cidades brasileiras em junho de 2013, usavam o mote do preço das passagens nos transportes públicos e a qualidade desses serviços. Mas, em verdade, pleiteavam muito mais. Algo híbrido, sem proclamar se era de esquerda ou de direita, mas reivindicando mudanças, embora sem propô-las de modo objetivo.

Era evidente que nenhuma liderança, partido político, entidade sindical ou estudantil podia se arvorar a promotor daquele movimento. A mobilização se deu por meio das redes sociais na Internet, no boca a boca das rodas de amigos, de escolas, de trabalho. Uma mobilização espontânea e pacífica. Vontade de gritar.

No atual momento político e histórico do país, em que a pauta antidemocrata domina os Três Poderes da República e a grande mídia, as vozes das ruas se fazem mais que necessárias. E ganham força com as faixas, camisetas, cartazes, falações e cantorias.

As próprias redes sociais na Internet têm sofrido intervenções, um tipo de censura camuflada, conforme muitas denúncias de usuários. Mas, de todo jeito, elas ajudam muito na mobilização, no chamamento aos atos públicos de todos os tamanhos.

Histórico

Desde os primórdios da Humanidade, o povo se rebelou contra situações desagradáveis. Mas, pode-se dizer que as manifestações modernas, de hordas de gente em áreas públicas e privadas das cidades e mesmo das zonas rurais, pra expor opiniões de modo pacífico, surgiram com o advento do modo de produção capitalista.

Faraós egípcios, imperadores romanos, religiosos satânicos da Idade Média ou mesmo povos latino-americanos, como os astecas e incas, todos enfrentaram revoltas populares de diversos formatos. A resposta dos detentores do poder, em muitos casos, era a execução sumária dos revoltosos que fossem apanhados.

Os eventos ocorridos durante a Revolução Francesa (1789-1799) são considerados precursores das manifestações modernas. Foi uma década de manifestações que puseram abaixo o poderia das velhas oligarquias, com seus hábitos, crenças e costumes.

No entanto, o formato de manifestação surgido nas fábricas da Inglaterra e outros países centrais do mundo capitalista, ainda no século XIX, é que deu origem ao modelo usado atualmente. Foram as primeiras sem participação das forças armadas e sem caráter belicista, em que eram apresentadas reivindicações e opiniões.

Nos dias atuais, no mundo inteiro, as manifestações de rua têm assumido papel importante nas vidas nacionais, muitas vezes ocorrendo quase que simultaneamente, em diferentes países. Embora tendo pontos em comum, no entanto, cada uma delas tem suas pautas próprias, específicas, que as tornam diferentes entre si.

Manifestações de diversas modalidades continuam a ocorrer na França, Espanha e vários países europeus ocidentais. Ocorrem também no Leste Europeu, especialmente na Rússia, na Ásia, no mundo todo. Cada uma com suas próprias agendas, mas em geral pregando a implantação, manutenção ou ampliação de plenos direitos democráticos.

Aqui, em solo tupiniquim, as manifestações de rua se tornam cada vez mais importantes, mais necessárias, pois mostram o clamor popular contra o golpe ainda em curso.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor