Quem matou JK?

Em outubro de 2013, publiquei texto com o título acima. Nele, anotei:

“Motorista envolvido em acidente de JK diz que recebeu oferta para assumir a culpa. O motorista do ônibus envolvido no acidente que matou o presidente Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, disse em depoimento à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo nesta terça-feira (1º) que recebeu oferta com uma mala de dinheiro para que assumisse na época a culpa da tragédia.

Josias Nunes de Oliveira, 69, afirmou que cinco dias depois do acidente foi procurado em sua casa em São Paulo por dois homens. ‘Eram dois cabeludos, que vieram em uma moto e se identificaram como repórteres. Eles disseram que se eu assumisse a culpa, receberia a mala cheia de dinheiro. Eu vi a mala, cheinha de dinheiro. Mas não assumi, pois não tinha a menor culpa’ ".

Onde há interesse em mentir sobre um acontecimento, há culpa. Então pude recuperar anotações da pesquisa que fiz há alguns anos sobre essa morte. Passo a elas.

De imediato, o leitor observe, primeiro, que o “acidente” sofrido por Juscelino Kubitschek chegou a ser anunciado como um destino, uma profecia, como era costume na ditadura, que às vezes perdia o timing entre assassinato e notícia. Vinte dias antes do óbito de JK, nas redações dos jornais já corria o boato de que ele havia morrido.

Ora, as mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda, em um período de 9 meses, já deveriam ter inspirado em nossa imprensa mais que conjeturas. Assim como Deus, a história não joga dados. Aos dados que não se jogam, portanto, nos limites de JK.

1. Em 1975, o jornalista Jack Anderson revelou que o general chileno Manuel Contreras qualificou Kubitschek como uma ameaça, em uma carta enviada ao ditador João Figueiredo. Contreras era chefe do Serviço de Inteligência do regime do Augusto Pinochet, responsável pela morte do ex-chanceler chileno socialista Orlando Letelier, ocorrida em 1976 em Washington, e atribuída à Operação Condor.

2. Segundo o cientista político Luiz Roberto da Costa Jr, em artigo no Observatório da Imprensa, ao mencionar as circunstâncias da morte de JK: “Não houve choque com o ônibus da Cometa, pois este estava atrás da Caravan verde. Testemunhas do ônibus que afirmam ter visto o clarão (‘sol’, como quer a versão oficial) e ouvido a explosão (‘batida’, como quer a versão oficial) não depuseram…”. E importante: “O Opala periciado em 1996 não corresponde ao Opala do acidente em 1976, o chassi é diferente”.

3. Na revista Época de 29.3.1999, sob o título de Um tiro na história, foi publicado: “Depois de 35 anos trabalhando como perito criminal na Polícia Civil de Minas Gerais, o historiador Alberto Carlos Minas está se aposentando e decidiu fazer uma revelação: ‘Eu vi um buraco de bala no crânio do motorista Geraldo Ribeiro’. Era Geraldo Ribeiro quem dirigia o Opala do ex-presidente Juscelino Kubitschek no dia 22 de agosto de 1976, quando bateu num ônibus na Via Dutra…” teria batido, segundo a polícia, corrigimos. “Segundo Minas, quando o corpo de Geraldo Ribeiro foi exumado, há pouco menos de três anos, o crânio estava inteiro e tinha um buraco. ‘De bala’, garante. ‘Depois que vi isso não me deixaram entrar na sala novamente’ ”.

4. E mais, do mesmo Carlos Alberto, em uma rápida entrevista: “As fotos das vítimas sumiram. Em 1996 o processo foi reaberto, mas jamais poderia ter prescrito. A família do motorista nunca viu o corpo dele. Eu era o perito do caso e não pude acompanhar de perto a exumação dos corpos. Quando levantaram a ossada do Geraldo Ribeiro, vi um buraco de bala no crânio dele… Do tamanho da tampa de uma caneta, de cerca de 7 milímetros. O crânio estava íntegro e intacto. Eu o vi inteiro na minha frente, ele não estava esfacelado como depois apareceu. Podem dizer que eu estava enganado quanto ao buraco, mas, se eu estiver errado, como eles explicam um objeto metálico dentro do crânio do Geraldo? Por que o crânio ficou fragmentado depois dos exames?”.

5. Em livro que me foi enviado por Maria de Lourdes Ribeiro, filha do motorista de JK, há o laudo número 12.31/96, do IML de Minas Gerais. Nele se escreve: “… fragmento metálico de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois milímetros, revelando-se como fragmento de prego enferrujado e corroído, recolhido do interior do crânio…”.

Dados como os acima voltam neste dezembro de 2017, quando a Comissão da Verdade de Minas Gerais levanta a tese do assassinato.

Em relação a JK, a história ainda está rolando os dados.

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