O golpe em seu labirinto

Ao marcar a data do julgamento de Lula em segunda instância para o dia 24 de janeiro de 2018, o setor judiciário do golpe de estado em curso no Brasil dobra a aposta.

Já atropelaram o processo legal em vários momentos, com o juiz Moro agindo como promotor. Basta comparar a tramitação do processo contra Lula com os que envolvem outros expoentes da política brasileira, alguns apanhados em flagrante, para perceber o enorme contraste. Arma-se contra Lula um julgamento político, cujo objetivo principal neste momento é a interdição de sua candidatura, hoje com praticamente o dobro de intenções de voto em relação ao segundo colocado

O linchamento moral, a perseguição diária da grande imprensa, o explícito preconceito de classe das elites e de setores da classe média, o repúdio do mercado financeiro: nada disso foi capaz de tirar Lula da liderança na corrida eleitoral. O povo sente no dia a dia, na fila do banco, do supermercado, nas dívidas que se acumulam, o que era a sua vida durante os governos de Lula e como está a sua situação hoje. A agenda de privatizações e reformas do estado, com retirada de direitos dos trabalhadores, não passa nas urnas. Jogando no desespero e vendo o tempo correr contra eles, o time do golpe resolveu botar os juízes do TRF-4 jogando no ataque para mostrar quem é o dono da bola.

Ao jogar sua carta mais alta na mesa, o consórcio do golpe demonstra também a sua fragilidade. Sabe que não vence nas urnas, por isso precisa inviabilizar Lula no tapetão. Aos olhos do povo, que conhece a morosidade do Judiciário brasileiro, a condenação em tempo recorde explicita a perseguição. Quem viu malas de dinheiro passeando por Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador não se impressiona com os pedalinhos, sítios e apartamentos modestos atribuídos a um ex-presidente da república.

Tirar Lula do jogo neste momento, inviabilizando a sua candidatura por uma sentença no mínimo questionável, em um julgamento viciado, desmoraliza a própria eleição e coloca em xeque as instituições. A defesa de Lula deverá ser feita inclusive por quem não vai apoiá-lo como candidato, mas compreende a gravidade do processo em curso. Não haverá legitimidade em uma eleição que começa com a interdição de uma candidatura, e este pode ser um preço alto demais a pagar, dado o precedente perigoso que se cria. Acelerando o seu desfecho, o golpe entrou no labirinto. É hora da cidadania brasileira reagir, não somente os que apoiam Lula, mas todos aqueles que têm compromisso com a democracia brasileira.


Publicado simultaneamente com a Agência de Notícias das Favelas (ANF)

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