Herança Monetarista Maldita

Na globalização financeira as taxas de juros se tornaram permanentemente positivas, fenômeno que leva os governos a transferirem para os detentores da dívida pública parte significativa da renda nacional, como bem observou Chesnais (1). Uma das justificat

A idéia que a inflação é a pior tragédia do mundo é fortemente influenciada pela escola monetarista. Segundo os expoentes desta escola, o nível de preços é determinado unicamente pela quantidade de moeda em circulação. A aritmética é simples: mais moeda, preços mais altos. Mais do que isso, para os monetaristas a inflação e suas causas seriam capazes de explicar não somente o funcionamento da economia, mas toda gama de fenômenos sociais conhecidos. Sendo assim, instabilidade de preços significa instabilidade econômica, e também instabilidade política e social. Milton Friedman, o mais célebre ideólogo do monetarismo, por exemplo, explicava a queda do governo de Chiang Kai-check e a vitória da revolução chinesa em 1949 a partir de um aumento desordenado na quantidade de moeda! (2) Todo problema é reduzido a um dado estritamente econômico: o controle da oferta monetária.


 


Mas, atualmente em todo mundo, a política monetária não é feita pelo controle da moeda, mas sim pelo manejo da taxa de juros pelas autoridades monetárias. A taxa básica de juros, que é baixada por decreto pelo banco central, influencia toda a estrutura de juros da economia. Todavia, muito além da dimensão técnica, o seu manejo depende muito das convicções do presidente e dos diretores do banco central, e não apenas de modelos econométricos, como querem nos fazer crer. Estatísticas e modelos econométricos são ferramentas importantes; importantes, porém não suficientes.


 



Não obstante a taxa de juros ser reconhecidamente um poderoso instrumento contra a inflação, as autoridades monetárias devem estar atentas para os efeitos colaterais que os juros altos causam para economia. No caso do Brasil, um desses efeitos tomou conta do debate econômico nos últimos meses: a valorização do câmbio. Um outro efeito, o baixo crescimento econômico, é igualmente, desde os anos 1980, bastante conhecido entre os brasileiros. Isto não significa que a inflação não seja um problema. É um problema, e os governos devem se preocupar, mas sem deixar de lado outras prioridades da Nação.


 



 
Venezuela fazendo a diferença


 



Assim, é notável que um diretor do Banco Central da Venezuela afirme publicamente que o crescimento econômico deve estar no rol das preocupações, tanto quanto manter a inflação sob controle (3). Notável porque na Venezuela, em contraste com o Brasil, a taxa de juros real está negativa. O venezuelano José Felix Rivas, que esteve em São Paulo para participar do 12 º Encontro Nacional de Economia Política, informou que existe uma meta indicativa para o índice de preços ao consumidor de 12,5% e para o crescimento, definida entre 5% e 6%. As duas metas, porém, devem ser ultrapassadas, segundo Sérgio Lamucci do Valor Econômico. Aumentos mais robustos devem realmente acontecer, pois só no primeiro trimestre a economia venezuelana cresceu 8,8% em relação ao ano anterior. Para os próximos seis anos espera-se um crescimento de 6% a 7%. Em relação a inflação, a taxa deve atingir pelo menos 20% em 2007.


 



 


Preocupante? Não para Rivas. Ele informa que nos últimos oito anos a inflação na Venezuela está abaixo da média da década de 1990, de 40%. Em relação ao crescimento, o país se recupera a passos largos desde a crise política e econômica de 2002/2003. Segundo dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), a economia venezuelana obteve um crescimento de 17,9% em 2004, 9,3% em 2005 e 10,3% em 2006. Em todos os anos bem acima da média da América latina Além disso, o impulso econômico vem de setores que não o de petróleo, o que para Venezuela é importante, pois o país depende muito das exportações de petróleo e seus derivados (mais de 80% do valor das exportações em 2005), e precisa diversificar sua pauta exportadora. É importante ainda destacar que apesar do forte crescimento econômico, a Venezuela apresenta elevados superávits na conta de transações correntes, saldo de 18,2% como porcentagem do PIB em 2005. Situação externa bastante confortável.


 



Portanto, existem sim, alternativas que não àquelas herdadas do monetarismo.


 


Notas



 
(1) CHESNAIS, François (1998). “Introdução”. In: A mundialização Financeira: gênese, custo e riscos. São Paulo: Xamã.


(2) FRIEDMAN, Milton (1994). Episódios da história monetária. Rio de Janeiro: Record.


(3) LAMUCCI, Sergio (2007). BC da Venezuela ignora inflação e juro fica negativo. Valor Econômico, 13 de junho.


 

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