O que está além das tragédias?

O mundo se habituou a assistir extremistas explodirem prédios, aviões ou comboios de automóveis, geralmente em nome de uma causa de base religiosa. Psicopatas anônimos e solitários, geralmente americanos ou europeus, praticando chacina contra centenas de inocentes também já virou rotina no noticiário mundial.

O que não era usual era essa tragédia em “nosso quintal”, num país que se orgulha de seu pacifismo, de sua tolerância e de seu elevado espírito solidário, especialmente entre as camadas mais simples do povo.

Episódios recentes, todavia, indicam que esse cenário bucólico talvez seja apenas uma pálida lembrança de nosso passado.

Essa opinião ganha reforço quando se tem notícia das rebeliões recentes ocorridas nos presídios e ou dessa tragédia recente praticada por um jovem que, pelo que se noticia, estava incomodado com as provocações dos colegas.

Nas rebeliões ocorridas nos presídios do Amazonas e de outros estados brasileiros essa degradação alcançou seu ápice. Centenas de detentos foram decapitados em rituais macabros, fazendo lembrar dos ancestrais mundurucus – a quem o naturalista Martius apelidou de “espartanos do Norte” – que cultivavam o hábito de decapitar os inimigos e espetar a cabeça numa estaca, com a qual entravam em combate para aterrorizar os adversários.

E essa barbaridade recente, na qual um jovem importunado simplesmente fulminou, aleatoriamente, alguns de seus próprios colegas de aula. Tal tragédia só não foi maior porque contou com a presença de uma profissional de educação de elevada estatura moral, solidária e de extrema coragem pessoal.

Mas o que está por trás dessas manifestações tresloucadas?

Uma sociedade capitalista apodrecida, intolerante, egoísta, mesquinha, que cultiva o individualismo, abomina a solidariedade e cuja ética é precisamente a exploração do homem pelo próprio homem, ou seja, uma sociedade de exploradores.

A repressão do aparelho de estado até pode conter provisoriamente estas explosões de irracionalidades, mas elas brotarão tal qual a erva daninha volta a vicejar após cuidadosos tratos culturais enquanto o solo estiver regado com sementes indesejáveis.

E essas sementes, as sementes da intolerância, ganham reforço especial diante de governos de direita, sem apoio popular, golpistas e cuja pauta é apenas e tão somente ataque aos direitos do povo e a nossa soberania.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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