Studio 18 m2

Andava pelo centro de São Paulo outro dia quando uma placa me chamou a atenção: Studios 18 m2. Penso: “bem, para uns 3 ou 4 caras gravarem por uma horinha, tá bom demais".

Olho mais detidamente: a partir de 200 mil. "Por um preço desses, o disco gravado precisaria ganhar o Grammy pro músico tirar o da passagem".

Rendo-me à força dos os fatos: os 18 metros quadrados são para moradia.

Corro à internet, invado a página da incorporadora – seja lá o que signifique incorporadora – e, pasmo, leio as vantagens do moderno empreendimento: "prático", "funcional", "ideal para solteiros", “ao lado do metrô”. Uma mão na luva para a vida corrida de quem trabalha no agitado centro paulistano.

Segundo aprendi, o metro quadrado é pouco maior que uma folha de jornal, modelo standard, aberta. Ou seja: na nova quintessência do ramo imobiliário não cabe o caderno principal do Estadão espalhado. Ainda bem que não existem mais televisões de tubo, porque seria difícil escolher entre a TV e o banheiro.

Mas se há oferta é que porque existe demanda. Sim, existem otários devotados, dispostos a pagar uma fortuna por um micro sanduíche de vento (é como chamo os apartamentos), vendido por algum meliante contumaz.

Na sociedade doente deste início de século, não há lugar para dois. A peraltice de reunir mais três amigos para beber e jogar buraco é coisa de tempos imemoriais. O churrasco em família, num domingo de sol, uma extravagância injustificável, alguma patologia social.

Arrojado empreendedor, achei o pote de ouro do outro lado do arco-íris: venderei confortáveis e luxuosos caixões residenciais. Praticidade extrema, é chegar e deitar, nem precisa apagar a luz. A vantagem adicional é saber quem chorou e quem sorriu no seu próprio velório.

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