Tribuneiro, com orgulho

Nesta semana ocorreu o aniversário de lançamento do jornal Tribuna da Luta Operária, nascido há quase quatro décadas. Lembrei que minha militância política começou, de fato, com o velho jornal. A Tribuna Operária foi a porta por onde ingressei no Partido Comunista do Brasil.

O ano era 1983 e eu morava num lugarejo do sertão do Ceará, esquecido do mundo, onde as notícias tardavam tanto a chegar que, quando vinham, já faziam parte da história. Estudante de pedagogia na Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI, eu era um adolescente inquieto, curioso, querendo saber das coisas do mundo.

Em abril daquele ano participei do aniversário da Associação dos Pequenos Agricultores de Quitaiús, um distrito de Lavras da Mangabeira, onde se construía uma experiência de resistência democrática com trabalhadores rurais e pequenos proprietários de terra, sob a liderança do padre Manoel Machado.

Naquele abril, naquela reunião festiva, vi a Tribuna pela primeira vez, levada por Eudoro Santana, um democrata que foi, depois, deputado estadual por vários mandatos. Das mãos do Eudoro eu peguei aquele jornal que trazia uma homenagem ao centenário de morte de Karl Marx. Tinha, se não falha a memória, um pôster do Marx encartado. Fiquei imediatamente fascinado pelo jornal e queria saber onde encontrá-lo, como comprar, como ser assinante. Cândido B. C. Neto, então meu professor, ao ver a minha curiosidade, disse que na FECLI havia gente que vendia aquele jornal.

− Procure a Gorete Soares, ela vende a Tribuna.

Duas semanas depois daquele episódio eu já havia acertado com a Gorete de pegar os jornais com ela em Iguatu e levar para vender em Cedro, onde morava. Virei tribuneiro, antes de virar comunista.

Vivíamos uma seca braba, das maiores que presenciei no sertão do Ceará, com saques constantes e a população brigando por uma lata d’água. Em setembro daquele ano escrevi para o jornal, para a seção “Fala o povo”, de responsabilidade da Olívia Rangel, denunciando o problema da escassez de água em Cedro. A carta foi publicada apenas com as minhas iniciais, JEO, mas naquela cidade minúscula isso era o suficiente para me identificar. O atrevimento de menino quase custou o meu emprego. Foi, aquela carta, a minha primeira participação na imprensa partidária. Desde maio daquele ano eu já buscara o PCdoB e em outubro iria ao Congresso da UNE, em São Bernardo, integrando a bancada da Viração, os “filhos da Tribuna Operária”, como jocosamente nos chamavam os trotskistas de vários matizes.

A Tribuna da Luta Operária foi, como falei, a minha porta de entrada no PCdoB. Fui tribuneiro, orgulhosamente. Vendi jornais em Cedro, Lavras da Mangabeira e Iguatu até quando a Tribuna parou de circular. Escrevi outras vezes para o “Fala o povo”, fazendo outras denúncias, assinando como “amigo da TO em Cedro”, que era como a maioria das cartas era assinada. Mas todos na cidade sabiam quem escrevia as cartas.

São mais de três décadas deste então, e permanecço tribuneiro até hoje. Escrevendo mal e mal essa coluna, volta e meia alguém chama a atenção para um texto mais carregado. É que continua a morar em mim aquele menino dinamiteiro de 1983, e por vezes é ele, como se escrevesse ainda para o “Fala o povo”, quem assume a escritura dessa coluna.

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