Muitos caminhos podem dar na frente ampla

Tempo tenebroso o que vivemos. Forças poderosas sustentam o governo frágil e desmoralizado, em favor de um programa de desmonte do Estado nacional e regressivo de conquistas e direitos.

É o novo pacto neoliberal imposto à nação através do golpe institucional que derrubou a presidenta Dilma, constitucionalmente eleita por sufrágio universal.

Interditá-lo é crucial para o presente e o futuro mediato do país. O que não se consegue sem uma ampla e plural conjugação de forças, que faça convergir para um leito comum variada gama de insatisfações e interesses.

Tarefa hercúlea, que se depara com múltiplos obstáculos, sobretudo no plano subjetivo: além de naturais receios e desconfianças mútuos, incompreensões recorrentes no arco de forças situado mais à esquerda.

Tem certa audiência a falsa avaliação de que a frustração do ciclo mudancista verificado nos governos Lula e Dilma se deu em razão da amplitude das alianças, então concertadas para a governabilidade.

Inclusive segmentos do PT, carentes de autocrítica em relação ao próprio exclusivismo, põem a “culpa” na amplitude das alianças e não nos equívocos cometidos em sua condução.

Por extensão, chegam ao disparate de “explicar“ a nossa tradição histórica de rupturas inconclusas pela amplitude das alianças.

Se limitadas as alianças ao campo popular, teríamos avançado muito mais do que conquistamos em episódios marcantes da evolução civilizatória brasileira — dizem —, como na proclamação da Independência, no advento da República, na Abolição da escravatura e assim por diante.

Nada mais falso.

Justamente quando ocorreram coalizões amplas e heterogêneas é que a vitória foi possível — sendo o limite relativo das conquistas resultante, duplamente, da imaturidade momentânea das forças progressistas e da peculiar capacidade de manobra das elites brasileiras.

E é certo afirmar que acumulamos expressiva tradição de frentes amplas no Brasil. Desde a Insurreição Pernambucana de 1645-1649, que culminou com a expulsão dos holandeses, e em outros tantos pelo Brasil afora.

Neste movimento, que findou com a vitória nas batalhas do Monte Guararapes, o desenho frentista é emblemático na figura do seus três principais líderes — o comerciante João Fernandes Vieira, o militar e dono de engenho André Vidal de Negreiros e o índio Felipe Camarão.

Querer delimitar agora a estreito arco de forças sociais e políticas a resistência ao governo golpista de Temer e a busca de superação da crise mostra-se, assim, erro crasso.

Cabe sim, sem fórmula predeterminada nem roteiro rígido, explorar variados caminhos que podem dar num novo pacto social e político, apto a livrar o país da crise e da ameaça neocolonialista, restaurar a democracia e inaugurar um novo ciclo transformador.

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