O direito de ser pequeno

Com o neoliberalismo de novo no poder, volta à moda o conceito de que ser capitalista é que bom, e que ser grande capitalista é o que vale, pois o pequeno não interessa. Nos órgãos públicos federais, sumiram as possibilidades de apoio ao pequeno dono de negócios, seja ele agricultor, comerciante, o que quer que seja.

É bem verdade que essa cultura do “proibido ser pequeno” é parte da ideologia da acumulação de capital. Não leva em conta nem mesmo a realidade nacional, refletida em dados do próprio governo. Um exemplo é o fato de que 72% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros advêm de pequenas propriedades rurais.

Nas cidades, cada vez mais o empresário é forçado a expandir o seu negócio sem limites, ou cair fora, se preferir. A começar pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que já nos seus estatutos determina que seu suporte visa fazer com que o micro deixe de ser micro e o pequeno deixe de ser pequeno.

O cara do carrinho de cachorro-quente tem que sonhar com um caminhão truck lunch, senão não terá futuro. Não interessa se o carrinho já lhe garante o sustento digno, dele e de sua família. E tampouco se ele está ou não satisfeito com a vida que leva, se gosta das conversas com a clientela que formou ao longo de anos, atraída pelo sabor inconfundível do sanduiche que vende.

É tão bonito ver o dono da pequena pizzaria, da casa de vitaminas, do sapateiro e assemelhados que mantêm seu tamanho e a qualidade dos produtos que vendem ou dos serviços que prestam. No mesmo endereço, às vezes por gerações a fio. Ele não está interessado em abrir filiais ou rede de lojas, pois não foi fisgado pela ganância acumulativa.

Isso, porque ele resiste às pressões do chamado mercado, da rede bancária, instituições oficiais e de concorrentes. Todos querem que ele cresça ou venda seu negócio a alguém que queira ser grande, que não esteja nem aí com os aspectos culturais e pessoais que ele carrega.

Na área rural, as máquinas substituem o braço humano nas lavouras, mas estas ficam cada vez maiores, confiscando a terra do pequeno, que vai pras cidades virar sem-terra, sem-teto, sem-nada. Lá, ele sabia o que era sustentabilidade, tirando da pequena propriedade quase tudo que precisa pra sobreviver com dignidade, vendendo o excedente pra prover o que lhe faltar.

Agora, entretanto, a ação de entidades como o MST passou a ser reprimida com virulência pelas polícias do novo regime implantado após o golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff. A assistência aos assentamentos rurais desapareceu e lideranças de trabalhadores têm sido assassinadas a mando de ruralistas, que continuam livres e bem representados até no Congresso Nacional.

O direito de ser pequeno não consta da pauta neoliberal.

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