García e Suassuna

Nestes dias, duas notáveis figuras originárias das línguas portuguesa e espanhola completam 80 anos de idade, de resistência literária e uma produção intelectual excepcional. Reafirmando sempre, nadando contra a maré, as nossas identidades, as nossas prin

Sem as quais não se é nada. Estado, nação, sem História ou uma língua em comum, são um amontoado de seres habitando um determinado pedaço de terra, não se constituindo em país, atomizados, em grupos familiares ou mesmo tribais.


 



Narra-nos o escritor mexicano Carlos Fuentes: Acredito na América Ibérica, as águas do Mediterrâneo fluem do Bósforo, na Turquia, e da Andaluzia, às Antilhas e ao Golfo do México. Mar de encontros e civilizações, principalmente o legado de 800 anos de arquitetura, música, ciência, dos povos árabes na Ibéria, que maravilham os viajantes de ontem e hoje.


 


 


Por isso, o poeta pernambucano João Cabral de Melo derrama, apaixonado, poesias sobre Sevilha, comparando-a às terras áridas do sertão brasileiro com uma intimidade de um andaluz nascido, quem sabe, nas inclementes regiões deste Nordeste que produz personagens assemelhados aos de El Greco, observa e afirma Gilberto Freyre.


 


 



Diz-nos Fuentes que somos majoritariamente mestiços, filhos do encontro, do sofrimento civilizatório ibérico, ameríndio e africano, gestando um povo singular, para o horror dos multiculturalistas embevecidos com o apartheid civilizado de origem norte-americana tão em voga nos dias de hoje.


 


 


É propagado, aliás, como o alfa e o ômega, através da grande mídia e das políticas afirmativas, institucionalizadas nos EUA, como instrumento de equalização e compensação de uma violenta segregação que atravessou os tempos e provocou a gigantesca luta pelos direitos civis em meados do século xx, liderada por Luther King.


 


 


Enfim, surgiram Heitor Villa-Lobos, Portinari, a pintura de Orozco, Frida Kahlo, o cinema de Emilio Fernández e Nelson Pereira dos Santos, a arquitetura de Oscar Niemeyer e Luis Barragán, a obra de Chico Buarque.


 


 



Ariano Suassuna e García Márquez, colombiano, são grandes expoentes de uma civilização em fazimento. A Pedra do Reino, e os Cem Anos de Solidão, magia, sedução e verdade crua. Progressistas, patriotas e internacionalistas, são patrimônio das Américas e da humanidade.



 

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