A essência do retrocesso

Quando uma sociedade perde a perspectiva sacrifica em primeiro lugar o projeto de nação.

É o que revela a história dos povos mundo afora.

É o que ocorre agora no Brasil, com a desastrosa interrupção do ciclo transformador que se operava desde 2003 e naufragou com o impeachment da presidenta Dilma.

Não é à toa que o golpe, à semelhança do ocorrido em 1964, se deu através da conjugação de forças externas com o que há de mais retrógrado no âmbito interno.

Agora, mais do que antes, sob um comando que se move por ideias e mecanismos ultrasofisticados.

É o capital financeiro na sua forma mais avançada, seus tentáculos transacionais experimentando meios de reconfiguração do processo de acumulação de capital e resistindo como pode à transição da hegemonia absoluta norte-americana a um mundo multipolar, que lhe foge ao controle.

Nessa agenda tem destaque o ataque aos Estados nacionais.

Temer e seu grupo, uma vez no posto, logo cuidaram de torpedear elementos que se somavam no sentido da afirmação do Brasil como nação soberana: a Petrobras, a hegemonia sobre a exploração do pré-sal, o BDNDES, os bancos públicos, a engenharia nacional, os projetos do submarino nuclear, da usina de Angra 3, da produção de mísseis para os caças Gripen e de foguete para a base de Alcântara e a diversificação das relações comerciais e diplomáticas, despidas de subserviência aos EUA.

Tanto que vozes como a de Bresser Pereira, à testa do “Manifesto Projeto Brasil Nação”, denunciam o retorno à “dependência colonial” como essência do projeto golpista.

O desmonte de conquistas e direitos, consignado com clareza nas reformas trabalhista e previdenciária e na fragilização de programas sociais de extensa cobertura, implicam sim consequências dramáticas para as condições de existência do povo. Porém mais dramático ainda é o esgarçamento dos ainda frágeis pilares do Estado nacional.

Mas no confuso e dispersivo ambiente instaurado pós-impeachment, a questão nacional frequenta o discurso da resistência ainda de modo tímido. Uma debilidade a ser superada.

De fato, a retomada do desenvolvimento com soberania e inclusão social há que se pautar por uma plataforma que cruze as vertentes nacional, social e democrática, sob a primazia da primeira.

Por extensão, uma plataforma fundada nessa matriz se fará apta a aglutinar uma coalizão política e social ampla e plural, na dimensão correspondente à envergadura dos desafios a enfrentar.

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