China e Brasil: destinos convergentes

Visitando a República Popular da China pela segunda vez (já estivemos aqui em abril/maio de 2005) em missão oficial da Prefeitura do Recife, somos tomados novamente de um incontido alumbramento, como diria o poeta Manuel Bandeira. Vê-se nas ruas de Beijin

Impressão semelhante têm manifestado alguns dos nossos interlocutores pernambucanos que integram a missão empresarial organizada pela FECOMERCIO, como o governador Eduardo Campos, o presidente da CHESF Dilton Da Conti, o reitor da Universidade Federal de Pernambuco Amaro Lins, o empresário do setor sucroalcooleiro Eduardo Farias, dentre outros.


 


 


Ao vice-prefeito importa acompanhar os seminários que aqui se realizam e sentir a pulsação das oportunidades de negócios entre empresários chineses e pernambucanos e, na medida do possível, identificar alternativas de ação da Prefeitura no sentido de estimulá-los. 


 


 


Mas, ao mesmo tempo, nossa condição de militante comunista nos leva a refletir sobre questões teóricas e políticas relacionadas com a construção do socialismo segundo as peculiaridades chinesas.


 


 


Na última terça-feira fomos recebidos por Wang Hua, chefe do Birô para a América Latina e Caribe do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista, que brindou nossa comitiva com uma conversa breve, porém densa e esclarecedora.


 


Um ponto nos chamou a atenção – o peso geopolítico da China e do Brasil num mundo globalizado que transita da unipolaridade imposta pelos EUA (na esteira da débâcle do bloco soviético) para uma desejada multipolaridade. “A China e o Brasil são dois países muito importantes para o equilíbrio e a paz mundial”, disse o camarada Wang Hua. E desempenham o papel que lhes cabe, a nosso ver, mediante uma postura correta, sem o desvio do hegemonismo. A China pontificando como principal potência da Ásia; o Brasil como principal fiador da unidade sul-americana.


 


Nesse sentido, duas anotações de leitura que conferimos durante a viagem nos dão o que pensar. De um artigo de Dilermano Toni na Revista Princípios, “Singularidades da dominação e da acumulação do capitalismo contemporâneo”, os esforços desenvolvidos pela China em favor da unidade e da cooperação mútua entre países como Rússia, Cazaquistão, Quirquistão, Tadjiquistão, Usbequistão, Mongólia, Paquistão, Irã e Índia, através da Organização de Cooperação de Xangai, sediada em Pequim; e com os países membros da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) – Brunei, Camboja, Cingapura, Tailândia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Indonésia e Vietnã. Algo que em nosso subcontinente o Brasil tenta, ainda de modo incipiente e em dimensão compatível com as realidades dos nossos países, fortalecendo o Mercosul e trabalhando pela integração sul-americana.


 


Em ambos os casos, relações pautadas pela igualdade, em que pese a força diferenciada de cada país. O que nos remete à outra anotação, de Severino Cabral, em artigo intitulado “O Brasil e a China rumo a um novo milênio” (Haroldo Lima, Duarte Pereira e Severino Cabral: China – 50 anos de República Popular. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 1999), em que faz referência à polêmica gerada na Conferência de Haia, realizada exatamente há um século, quando Rui Barbosa foi duramente combatido por representantes das grandes potências da época, justamente porque defendeu o respeito à igualdade entre as nações soberanas.

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