Freio na modernidade

O capitalismo, em tese, é perverso por natureza, representando a exploração do homem pelo homem, e pronto. Na prática, porém, por força das lutas populares, regimes capitalistas adotam políticas de caráter social, em maior ou menor escala, e por isso, como dizia Antônio Cândido, têm seu lado socialista.

No mais das vezes, são políticas puramente econômicas, que levam a melhorias na qualidade de vida de populações inteiras ou de grandes parcelas delas. Mas podem ser ações voltadas a setores específicos, como mobilidade urbana ou meio ambiente, mas que também resultam em significativos avanços em bem-estar coletivo.

Políticas ambientais, por exemplo, são adotadas por governos progressistas, que descobrem formas de retirar pequenas parcelas da mais-valia que vai pras mãos de alguns poucos, dando a elas uma função social. Afinal, o dinheiro é inimigo mortal da qualidade de vida no Planeta. A ânsia pelo lucro não se afina com medidas que visem cuidados com o ambiente em que vive a Humanidade.

Essa evolução ocorre em todos os campos da vida, gerando um novo pensamento, novos conceitos sobre Direitos Humanos e qualidade de vida em geral. Estes são adotados em plano universal pela Organização das Nações Unidades (ONU) ou outros fóruns que regulam as relações entre as nações ou pessoas, que os encaram como Modernidade.

No entanto, setores retrógrados, defensores empedernidos do liberalismo econômico a qualquer custo, desdenham esses cuidados. Um tal “mercado” comandaria o mundo. Os seres vivos, inclusive os humanos, são apenas peças manipuladas por essa entidade superior.

Em plano global, vem ocorrendo retrocessos em questões já tidas como consolidadas. Por exemplo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sujeito assumidamente de direita, atrasado, acaba de retirar seu país do Acordo de Paris sobre o Aquecimento Global.

Esse instrumento, cujo nome oficial é Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima, é fruto de debates e negociações que se prolongam há décadas, e entrará em vigor em 2020. Seu formato final foi assinado 2015, por 197 países, entre os quais o Brasil, e ratificado recentemente.

Seu objetivo principal é a adoção, por todos os países signatários, de medidas que reduzam gradativamente a emissão de gases que promovem o chamado efeito estufa. Ou seja, geram o aquecimento da temperatura na Terra, com alguns resultados já bastante conhecidos de todos, com mudanças geofísicas, como o degelo das camadas polares.

O mau exemplo dado por Trump, infelizmente, é seguido em todos os continentes, por governos que dão demonstrações claras de que não estão nem aí com o futuro da vida. No Brasil, inclusive.
No plano federal, o governo adota uma série de medidas que liberam o desmatamento na Amazônia. Contraria o bom senso e interrompe um processo que vinha conseguindo reduzir o ritmo de retirada do que resta de floresta na região.

São medidas explicitas, como as que desmontam a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no sudoeste do Pará. Ou camufladas, como a que redefinem as atividades econômicas que precisam de licenciamento ambiental desde antes de sua implantação. Mineração e agropecuária, por exemplo, ficam isentas.

No plano local, podemos citar o exemplo do aumento do limite de velocidade dos automóveis em São Paulo já apresenta resultados, com mais mortes no trânsito. Lotam os hospitais com prolongadas internações e as ruas de pessoas portadoras de deficiência. Também ali, um freio na modernidade.
São, todas essas, medidas que se contrapõem a avanços já consolidados em várias partes do mundo. É, pois, um freio, ou marcha a ré, na Modernidade, também em solo tupiniquim.

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