Diretas na dependência da intenção e do gesto

Vozes as mais diversas, incluindo gente conservadora, reconhecem que um pleito direto agora para suprir a vacância da presidência da República, pós-queda de Temer, "arejaria" a árida cena política nacional.

Mas não está fácil. Entre a intenção e o gesto há muitas contradições a contornar.

Enquanto isso, Temer se mantém na UTI respirando por aparelhos, movimenta sua tropa de resistentes e se beneficia da ausência de consenso entre o PSDB, a maioria peemedebista e seguidores de menor expressão, que não encontram o nome da confiança comum para o pleito indireto.

Tucanos à frente, a turma do golpe trabalha com duas intenções pétreas: assegurar as reformas trabalhista e previdenciária e o conjunto da agenda neoliberal regressiva; manter o controle sobre a saída política para a crise institucional.

E se no conjunto da sociedade mais de oitenta por cento da população deseja eleições diretas agora, essa intenção não se traduz num movimento da expressão e força correspondente.

Essa contradição, digamos assim, há que ser enfrentada com a construção de uma plataforma comum, de fato orientada para a superação da crise e destinada a empolgar a nação, em combinação com a mobilização de rua.

São as pedras de toque para a consecução de uma ampla frente democrática em contraposição ao contraditório, porém dominante consócio entre a maioria parlamentar reacionária, parte do judiciário e do aparelho policial e a grande mídia.

Nesse contexto, uma hipótese aparentemente frágil, porém real é a manutenção de um governo Temer moribundo até 2018.

O que seria péssimo para a nação, para o povo brasileiro e extremamente corrosivo para a possibilidade de estatura ao democrática.

Ainda que num ritmo claudicante, as partes se movem e o desenlace imediato ainda não é claramente previsível.

Daí ser simplista comparar o atual movimento pelas diretas com a memorável jornada de 1984.

Àquela época, a peleja reuniu amplas forças sociais e políticas e, a partir de certo instante, ganhou ressonância na grande mídia.

Hoje, ainda é um bandeira erguida por partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos sociais diversos e personalidades de certa projeção. Carece de amplitude e ainda se embaraça em percalços advindos do sectarismo e da intolerância.

Avançar é preciso – com largo descortino, em defesa da nação e da democracia.

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