Como as ondas do mar

Ainda repercute a greve geral da última sexta-feira. A paralisação propriamente dita e as passeatas.

Tirante as distintas narrativas a critério de governistas ou oposicionistas, uma pergunta me chega com frequência: – E agora, a oposição cresce?

De pronto, não se pode desconhecer o fato real e incontornável de que quase quarenta milhões de pessoas não compareceram ao trabalho, conforme o jornal francês Le Monde.

E não cabe minimizar a dimensão do movimento arguindo que o sistema de transportes parou. Ora, há alguma greve geral bem sucedida mundo afora sem a paralisação dos transportes?

Quanto aos desdobramentos, há que se ver – tanto no plano imediato, a influência real sobre o comportamento de deputados federais e senadores na votação das duas reformas; e no plano mediato, a contribuição dos movimentos sociais para a ampliação e o fortalecimento da oposição ao governo Temer.

Temer e o grupo palaciano acusaram o golpe: cuidam da exoneração de ocupantes de cargos no governo indicados por deputados da base governista, para impedir que as dissensões aumentem.

Quanto à fortificação da oposição, depende da correta exploração de elementos novos revelados no dia 28: a amplitude do movimento, para muito além das centrais sindicais, incluindo variados segmentos da sociedade civil, a Igreja Católica e parte das igrejas evangélicas; e a própria unidade das centrais sindicais, manifestada
nas comemorações do Primeiro de Maio, segunda-feira, sobretudo em torno da resistência às duas reformas.

Movimentos políticos com dimensão de massas crescem como as ondas do mar, paulatinamente.

Enfim, a greve geral – pela sua dimensão e contornos sociais e políticos – pode ter trazido à cena política um fato novo. Veremos.

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