Novo ciclo demanda reposição e estratégias à construção partidária

Sempre tenho afirmado que nenhum partido pode dar conta da grave crise do país hoje. A esquerda brasileira, as forças nacionais e populares, democráticas e progressistas precisam se unir em amplo arco em torno de um programa comum de salvação nacional, da democracia e dos direitos sociais do povo já alcançados.

O PCdoB, por seu Programa e conduta política, sua força no movimento social e na disputa de ideias, é indispensável a isso. O centro de sua orientação, aprovada pela direção nacional e a ser aprofundada no 14º Congresso, e a constituição de uma Frente Ampla em defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos do povo.

Entretanto, os comunistas precisam trabalhar duro para reforçar sua política, suas bases sociais de sustentação e sua estruturação, para dar conta desse desafio. Neste artigo trato desse último ponto, sabendo que é um tema mais “interno”, mas assumindo que é incontornável.

Ocorre uma mudança de fase na vida do país: o ciclo dos governos progressistas se esgotou e outro busca nascer, cujos contornos são ainda indefinidos. Há que ser consequente com essa constatação. Há como uma “contrarrevolução” em curso, destinada a garrotear a esquerda brasileira. Avança feroz e destrutiva de tudo quanto se alcançou em longas décadas de luta, desde tópicos nascidos com o ciclo da modernização brasileira a partir dos anos 1930, até mesmo, e especialmente, o da Constituição de 1988.

A esquerda perdeu bases sociais, votos e perdeu posições em poderes institucionais. Nesse quadro, são necessários reposicionamentos na orientação política, nas relações com os trabalhadores e segmentos populares, na interação maior com as forças progressistas e democráticas e até mesmo forjar reconfigurações de caráter frentista e não partidistas para se apresentar como alternativa eleitoral.

A luta contra hegemônica que precisa ser travada será dura, difícil e prolongada. Não há atalhos. Novas opções e escolhas políticas precisam ser postas em debate; os caminhos adotados responderão pela acumulação de forças ou não pelos próximos anos.

Para tal enfrentamento não serão suficientes apenas as forças da esquerda política e social. Nenhum partido pode dar conta da grave crise do país hoje. A esquerda brasileira, as forças nacionais e populares, democráticas e progressistas precisam se unir em amplo arco em torno de um programa comum de salvação nacional, pelo desenvolvimento soberano, a democracia e os direitos sociais do povo indispensáveis a um projeto de Nação. Exige-se articular todo esse campo em torno dessas bandeiras comuns para enfrentar, isolar e derrotar o projeto neoliberal no país. Uma Frente Ampla para oferecer novas esperanças ao povo brasileiro é a base para a estratégia de construção partidária.

Estes são momentos decisivos sobre o papel, força e lucidez política dos comunistas. Momentos de calmaria não testam o partido comunista; a questão é mostrar têmpera e elevar seu protagonismo nos momentos de acirramento da multidimensional da luta política de classes.

Aponto neste artigo que o tema da estruturação partidária, para os comunistas, é diretamente político, ou seja, integra a própria orientação política a que se quer dar cumprimento. Uma linha foi traçada pela direção nacional, a qual recolhe e dá novos desenvolvimentos a tudo que a inteligência coletiva cristalizou como fundamentos da construção partidária nas últimas décadas. É uma linha consequente e está sendo debatida pelo partido em todo o país para ensejar uma campanha vigorosa.

Esse debate leva a refletir sobre as singularidades que definem a atual fase, que podem ensejar outras opções necessárias na política de construção partidária e encontrar os elos centrais decisivos que puxam toda a cadeia necessária para avançar.

Nesse sentido, aponto para alguns fatores que não podem ser desconsiderados.

Um deles parte da evidência de que a força de uma orientação política será sempre a força da base social que a sustenta, a qual não é “naturalizada”, mas sim disputada na luta política, social e cultural.

Portanto, é preciso definir eixos para ampliar, renovar e aprofundar inserções sociais para a nova política de Frente Ampla, à luz da realidade dos conflitos e da consciência social instaurada no país, tais como são vivenciados pelos indivíduos, classes e segmentos de classes. Creio que essa problemática está subestimada nos debates, saiu da pauta de investigação e estudo sistemático da realidade, capaz de definir os focos decisivos da inserção partidária.

O segundo é considerar que os reposicionamentos têm como vetor dominante o projeto e lugar político a disputar e as alianças a realizar para construir a Frente Ampla; essa é a base da identidade partidária. Isso implica consequências sobre a estratégia de construção partidária e sobre as próprias bases de sustentação social que devem ser perseguidas. Por isso, o tema deve ser revisitado.

Em terceiro, por último, é o de que, à luz de toda evidência, movimentos de reposicionamentos põem em primeiro lugar o instrumento da política de quadros. São necessários núcleos de quadros mais afeitos a construir estratégias para a construção partidária e uma justa alocação de quadros nos focos decisivos que puxam toda a corrente dos novos objetivos: eles ponteiam e comandam os reposicionamentos.

Enfim, chamo a atenção para o fato de que o tema da estruturação deverá ser central nos processos de Conferências do 14º Congresso, cujas teses centrais devem estar prontas em apenas três meses. É preciso fazer tudo, colocar a campanha proposta em movimento; é preciso também ir além, dadas as profundas mudanças em curso.

O PCdoB tem forças sociais e ideais, e muita fibra, para encontrar os caminhos renovados para seu fortalecimento e não deve subestimar as exigências de renovações para isso.

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