Mainardi é bom começo 

Quando vi na TV a história daquele rapaz de Rio Branco que pensa ser Giordano Bruno e sumiu nos confins do Acre após decorar seu quarto com textos cifrados, eu não tive dúvidas sobre seu paradeiro. A começar pelo fato de que as plagas que Plácido de Castro forçou o Brasil a comprar da Bolívia parecem ser pouco apropriadas a um ser desse tipo.

Assim, ele por certo já pegou o rumo dos EUA, onde lhe aguarda uma janela na turma que faz aquele programa da GloboNews chamado Manhattan Connection, gravado em Nova Iorque. Até porque deve vagar o lugar do comentarista Diogo Mainardi, ex-colunista da revista Veja e editor de um blog de intrigas na Internet.

Envolvido no esquema de propinas ao senador tucano Aécio Neves e denunciado pelo pagador-mor Emílio Odebrecht, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, seguindo a regra, Mainardi deveria ser preso. Pelo menos é o que se espera a alguém que, como ele, se arvora a dono do mundo e inimputável.

Entretanto, não vamos desejar tanto mal assim ao rapaz do Acre.

Em verdade, ao citar esse jornalista o patriarca da empreiteira baiana apenas abriu caminho a que as denúncias de corrupção cheguem com peso a dois setores ainda ilesos: a mídia e a Justiça. Pelos trechos de depoimentos até agora divulgados, ele e outros executivos deram deixas do que pode vir por aí.

Em sua fala, Emílio Odebrecht disse que “o que nós temos no Brasil não é um negócio de cinco anos, dez anos atrás; nós estamos falando de 30 anos atrás". E pergunta:

— “A imprensa toda sabia que efetivamente o que acontecia era isso. Por que agora estão fazendo isso? Por que não fizeram isso há dez, 20 anos atrás?"

Coincidentemente (ou não), a ex-ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deu entrevista a alguns jornalões dizendo que as delações e investigações irão chegar também a essas esferas de poder.

— “É preciso observar que os trabalhos têm cumprido etapas. Por exemplo, muita gente dizia que o PSDB não estava sendo investigado e era verdade, mas agora está aí, toda sua cúpula envolvida. O mesmo está ocorrendo com a Justiça e com a imprensa, mas a hora vai chegar”, afirmou ela à Folha de S.Paulo.

Segundo a ministra e o empresário, o envolvimento de empresas de comunicação, profissionais da mídia e de membros do Judiciário não se dá apenas pela omissão ou conivência. É pela participação ativa em conluios de toda ordem. Ou seja, sempre se locupletaram também.

No caso de Diogo Mainardi, a citação de seu nome se deu meio por acaso. O delator descrevia um encontro de “negócios” com Aécio Neves em um restaurante do Rio de Janeiro e contou que o jornalista fazia parte do grupo do ex-governador de Minas Gerais.

Mainardi, ao se defender, disse que foi encontro casual, mas acabou revelando outras ligações que mantém. Disse que costuma frequentar aquele restaurante, confirmando que ali se encontra com o cônsul dos EUA na Cidade Maravilhosa.

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