A lista de Fachin e o perigo da não política

Saiu nesta última semana a tão aguardada lista de Fachin com centenas de nomes das mais diversas personalidades públicas de variados matizes políticos acusados de corrupção pela famosa Operação Lava Jato. 

Apesar dos famosos apelidos que as fases ganham de seus autores, eu, particularmente prefiro dividi-la em duas grandes etapas: a destruição dos partidos de esquerda (em especial do PT) e a segunda, que penso já ter se iniciado desde o impedimento da presidenta Dilma, mas que agora toma proporções cada vez maiores que é a criminalização da política, de toda política.

A primeira parte objetivava (e ainda objetiva, pois não se encerrou) a destruição da esquerda como um todo através de denúncias contra lideranças deste campo político, em especial do PT que tinha, após diversas eleições, vencido o pleito presidencial com grande apoio popular. Mesmo em 2014 com petistas importantes presos (sem provas cabais, diga-se de passagem) novamente a centro-esquerda venceu no Brasil.

Como esta fase não terminou com Dilma reeleita, a Lava Jato seguiu a todo vapor buscando e destruindo dia após dia (com o apoio da grande mídia) a identificação popular de parcela importante da população com os governos petistas e suas bandeiras históricas.

Os efeitos imediatos disso tudo nós já vimos: retirada de uma presidenta do poder sem provas, acusação de banditismo os militantes das causas sociais e derrocada eleitoral de parcela significativa da esquerda nas eleições municipais de 2016. É importante frisar também o aumento e crescimento do discurso de ódio e da intolerância, tendo o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como seu representante maior.

Os efeitos em médio prazo desta fase começam a dar sinais do que vem pela frente: possibilidade cada vez mais real de ilegalidade de partidos políticos ideológicos (PCdoB, PSOL e Rede, entre outros), perseguição implacável a Lula com grande probabilidade deste não poder ser candidato em 2018 ou até, em último caso, de sua efetiva prisão. Em longo prazo, os efeitos desta fase são ainda imprevisíveis, mas como nada que é tão ruim que não possa piorar vale debatermos a segunda etapa da Operação Lava Jato.

Esta segunda parte consegue ser ainda mais grave que a primeira, pois muitos daqueles que, ou influenciados pela mídia ou por divergência ideológica, apoiaram o início desta “caça as bruxas” do século XXI estão entrando no mesmo barco, ou seja: todos e todas iguais.

Se o início da Lava Jato objetivava mostrar (injustamente) que o PT era um partido corrupto, este novo estágio tem como meta algo ainda maior: mostrar que todo político é bandido, ou seja: não se salva nada. Todo partido é igual e independente da ideologia de cada um, são siglas diferentes de uma mesma quadrilha. É a busca do descrédito total para destruição do sistema representativo brasileiro!

O perigo agora se torna ainda pior, pois tenta destruir a política ao levar para o imaginário popular a negação dos partidos políticos e das eleições, duas das maiores vitórias democráticas pós-ditadura militar.

Obviamente que a divulgação de acusações nas redes midiáticas tradicionais será sempre maior para a esquerda do que, por exemplo, para o abominável ‘mineirinho das neves’, bem conhecido por suas falcatruas com o dinheiro público. Mas, neste momento, o foco precisa ser outro, pois está em risco a democracia parlamentar!

Independente de sigla partidária é o momento de repensar a quem serve esta Operação Lava Jato. Foi graças a ela (de maneira direta ou indireta) que o Pré-Sal foi repassado a empresas estrangeiras, a indústria de construção civil esfacelada e até mesmo a carne brasileira, que disputa mercado internacional com os Estados Unidos atingida. O agronegócio e a indústria da cerveja tem tudo para serem os próximos alvos desta ação antinacional do judiciário, pois a última coisa que aí existe é interesse nacionalista.

As reformas que retiram direitos dos trabalhadores e trabalhadoras (previdenciária, trabalhista, etc.) é também reflexo disso, em especial do caos criado no país pelas ações de juízes que não defendem um Brasil soberano. Sob a égide do combate à corrupção estão levando o país para a beira do fascismo. E pior, um fascismo de novo tipo (se é que pode piorar), ultraliberal e concentrador de renda.

Algumas agremiações políticas teimam em não enxergar o óbvio: a negação da política não favorece a quem quer transformar de fato a nação, serve apenas ao capital financeiro internacional, este sim o ideólogo do golpe, quem está por trás de tudo que estamos vendo nos últimos tempos, uma espécie de Operação Condor do século XXI. Foi assim no Paraguai, na Argentina, no Brasil e até mesmo na Venezuela (em curso).

É preciso uma grande frente nacional e patriótica em defesa da democracia. Não podemos cair no erro de achar que isto tudo “vai passar o Brasil a limpo”. Não vai e sabe por quê? Porque a corrupção é inerente ao sistema capitalista. É muita ingenuidade achar que somente no judiciário não existe propina! Logo ali, que é onde se julga e se é julgado.

Lutar contra a corrupção é lutar por outra forma de poder, mas uma que seja capaz de garantir as liberdades de, inclusive, se pensar diferente, não uma capaz de colocar o país nas trevas de uma nova ditadura, seja ela militar ou de toga. O caminho que está sendo traçado é perigoso e pode levar à perda das poucas liberdades democráticas que ainda nos restam.

Para concluir, repito: não existe saída para os problemas fora da política, negá-la é contribuir de maneira significativa para a volta de períodos que, tenho certeza, a grande maioria não quer que volte!

Pense nisso!

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