A colonização do pensamento evidencia a subalternidade

Alguns episódios da política nacional impeliram-me a pensar mais sobre a colonização intelectual. E o faço a partir do dito por Karl Marx e Friedrich Engels em “A Ideologia Alemã” (1847): “Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa sociedade é também a potência dominante espiritual”.

Não sou especialista no tema “colonização das ideias”. Utilizarei “colonização” no sentido de “a ação e o efeito de colonizar – se fixar num território que não o de origem dos colonizadores”. Consta na Enciclopédia das Línguas no Brasil que “os efeitos ideológicos de um processo colonizador materializam-se em consonância com um processo de colonização linguística, que supõe a imposição de ideias linguísticas vigentes na metrópole e um ideário colonizador enlaçando língua e nação em um projeto único…”.

Voltando aos episódios que mexeram comigo e fizeram aflorar a necessidade de entender mais de colonização do pensamento (além dos inúmeros cerceamentos do direito de ir e vir de políticos de esquerda em restaurantes): o primeiro, a doença de Lula, em 2011. Adversários políticos, com o intuito de desmoralizar e vulnerabilizar, criticaram, com má-fé, o direito de Lula escolher como e onde queria tratar sua doença, segundo suas posses. O que ocorreu (“Lula, vá se tratar no SUS”) é uma anomalia numa democracia porque foi baseado num ideário fascista!

“Só o preconceito de classe, uma das expressões da luta de classes, contra um sertanejo nordestino originariamente pobre e retirante, que, pelo voto popular, presidiu o Brasil por duas vezes e ainda elegeu sua sucessora, explica que gente que se diz ‘bem-nascida’ e que, mesmo quando come sardinha, diz que arrota caviar, exija que Lula vá se tratar no SUS quando essa não foi a escolha que ele fez! Acessar o SUS é um direito, e não uma obrigação!” (“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem”, O TEMPO, 8.11.2011).

O segundo, “a profanação do velório de José Eduardo Dutra, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores e da Petrobras – que não aparece em nenhuma denúncia da empresa! O que torna mais espantosa a chamada do panfleto, jogado na porta do velório: “Petista bom é petista morto!” São dois delitos graves: profanação praticada contra um morto e usurpação do direito que tem a família de velar em paz seu morto! Em que mundo vivemos em que não podemos sequer velar nossos mortos? Até animais velam seus mortos! (“A profanação de rituais fúnebres é imoral e criminosa”, O TEMPO, 13.10.2015).

O terceiro, em curso. A mulher de Lula, Marisa Letícia, internada desde 24 de janeiro, após Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico decorrente de rompimento de um aneurisma. Além das paneleiras em vigília diante do Hospital Sírio-Libanês e da verbalização de desejos de morte para ela, a postagem do “conde” Chiquinho Scarpa no Facebook, prenhe de mentiras, é fiel ao que um fascista pensa, mesmo não desejando a morte dela.

Escreveu o “conde”: “Marisa Letícia, que você se recupere… mas vá se tratar em um dos fantásticos hospitais públicos destruídos pelo PT nos últimos 13 anos e que o médico seja um cubano que tem o salário tomado por Fidel… E antes que a militância venha me mandar para o mesmo hospital… Infelizmente, o PT arrebentou esses hospitais, por isso sou obrigado a usar meu dinheiro, ganho honestamente, para me tratar em hospitais particulares, apesar dos impostos absurdos que eu e todos nós pagamos” (25 de janeiro, às 07h09). Sem palavras!

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